CONTAS PÚBLICAS
Município de Coronel Ezequiel tem receita própria quase zero
Um em cada três municípios brasileiros não consegue gerar receita
suficiente sequer para pagar o salário de prefeitos, vereadores e
secretários. O problema atinge 1.872 cidades que dependem das
transferências de Estados e da União para bancar o custo crescente da
máquina pública, segundo levantamento da Federação das Indústrias do
Estado do Rio (Firjan).
Alguns desses municípios foram criados
após a Constituição de 1988, que facilitou esse movimento, e ainda não
conseguiram justificar sua emancipação. Essa falta de autonomia
financeira, porém, não impediu que voltasse ao Congresso um projeto de
lei que permite a criação de 400 novos municípios.
Hoje, a
situação mais grave está em cidades pequenas, que não têm capacidade de
atrair empresas – o que significaria mais emprego, renda e arrecadação.
Em geral, contam com um comércio local precário e, para evitar a
impopularidade, as prefeituras cobram poucos impostos. Há cidades em que
o IPTU só começou a ser cobrado depois que a crise apertou.
No
Rio Grande do Norte, segundo o estudo, há 63 municípios nessa situação –
o que representa 37% de todas as prefeituras potiguares (são 167, ao
todo). É o oitavo estado do País (e o terceiro do Nordeste) com maior
número de prefeituras com baixas receitas.
O levantamento da
Firjan mostra que, em média, a receita própria das cidades com população
inferior a 20 mil habitantes é de 9,7% – ou seja mais de 90% da receita
vem de transferências públicas. Em alguns casos, a receita própria do
município é praticamente zero, como verificado em Mar de Espanha (MG),
Olho D’Água do Piauí (PI) e Coronel Ezequiel (RN).
Segundo a
Firjan, que analisou o balanço anual entregue pelas prefeituras à
Secretaria do Tesouro Nacional, essas cidades – que não se pronunciaram –
não conseguem gerar receita para cobrir nem 0,5% das despesas com a
máquina pública. “Três décadas após a Constituição, o quadro que vemos é
de total desequilíbrio entre o volume de receitas e a geração de
arrecadação própria na grande maioria das prefeituras brasileiras”,
afirma o coordenador de Estudos Econômicos da Firjan, Jonathas Goulart
Costa.
Ele pondera ser natural que a gestão do atendimento ao
cidadão consuma parte dos recursos municipais, uma vez que os governos
precisam planejar e administrar as contas. Mas, no ritmo de hoje, esses
gastos estão consumindo recursos que poderiam ir direto para a prestação
de serviços aos moradores. Na média, os gastos com a máquina pública,
que incluem funções administrativas e legislativas, consomem 21,3% do
orçamento dos municípios com menos de 5 mil habitantes – equivalente à
despesa com educação.
O presidente da Confederação Nacional dos
Municípios, Glademir Aroldi, diz ser contra a criação de municípios que
não tenham condições de atender à população. “Mas em alguns locais há
espaço para criação de novas cidades”, diz. O projeto de lei que
permitiria a emancipação foi reprovado no governo Dilma Rousseff, mas
voltou ao Congresso.
(Agência Estado)
Nenhum comentário:
Postar um comentário