PÓS-ELEIÇÃO
O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) (Nelson Almeida/AFP)
O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, candidato derrotado à Presidência da República pelo PT, afirmou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
preso há quase oito meses em Curitiba, passa por um “momento mais
difícil” na prisão após a eleição presidencial. Condenado em segunda
instância a doze anos e um mês de prisão pelos crimes de corrupção
passiva e lavagem de dinheiro, Lula foi barrado na disputa pelo Palácio
do Planalto com base na Lei da Ficha Limpa. Ele liderava as pesquisas de
intenção de voto.
“Eu acredito que o Lula pós-eleição está num momento mais
difícil. Mas a capacidade de regeneração dele é grande. Já superou um
câncer, a perda da esposa, a privação de liberdade”, declarou o
ex-prefeito.
Advogado do ex-presidente, Haddad tem livre acesso a ele na
Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Durante a campanha no
primeiro turno, quando buscava transferir para si os votos de Lula, o
ex-prefeito o visitava semanalmente. No segundo turno, mas deixou de
fazê-lo para se afastar da rejeição de parte expressiva do eleitorado ao
ex-presidente. No início de novembro, Haddad se encontrou com Lula pela
primeira vez na prisão após as eleições.
Questionado sobre quais perspectivas o PT enxerga para a soltura de
seu líder máximo, o ex-prefeito paulistano disse que “não saberia
responder” e reiterou o discurso petista de que a liberdade do
ex-presidente “se confunde” com a defesa do estado democrático de
direito. Na sexta-feira, 23, o ministro do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) Felix Fischer negou monocraticamente uma apelação da defesa de Lula para que ele fosse absolvido. Cabe recurso.
Na entrevista ao jornal, Fernando Haddad, que também foi ministro da
Educação em governos petistas, criticou o projeto Escola sem Partido,
defendido pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), que visa a
coibir suposta doutrinação ideológica em escolas e universidades.
Questionado se Bolsonaro representa um risco à democracia, Haddad
citou a tese do professor português Boaventura de Souza Santos de que
atualmente há “sistemas híbridos”, em que “o viés antidemocrático pode
se manifestar por dentro das instituições”. O Escola sem Partido foi
classificado pelo petista como exemplo de “projeto autoritário que está
nascendo dentro da democracia”.
“O STF pode barrá-lo. Os pesos e contrapesos de uma República moderna
vão operar? Se não operarem, você tem o modelo híbrido, com o
autoritarismo crescendo por dentro. Estamos já vivendo em grande medida
esse modelo. Quando um presidente eleito vem a público num vídeo dizer
que os estudantes brasileiros têm que filmar os seus professores e
denunciá-los, você está em uma democracia ou em uma ditadura?”, indagou.
Ainda sobre a eleição de Bolsonaro, Haddad disse que “achava que a
elite econômica não abriria mão do verniz que sempre fez parte da
história do Brasil. As classes dirigentes nunca quiseram parecer ao
mundo o que de fato são”.
O petista ainda citou estudos segundo os quais, se ele tivesse entre
os evangélicos o mesmo porcentual de votos que recebeu fora desse nicho,
teria vencido a eleição. “A pauta regressiva afeta esse mundo de forma
importante. Há um fenômeno evangélico sobre o qual temos que nos
debruçar. Não podemos dar de barato que essas pessoas estão perdidas. A Ética Protestante e o Espírito Capitalista é um clássico do Max Weber. A gente deveria pensar na ‘ética neopentecostal e o espírito do neoliberalismo’”, declarou.
“Assim como no final da ditadura foi possível abrir um canal de
diálogo com a Igreja Católica, a esquerda tem agora o desafio de abrir
um canal com a igreja evangélica, respeitando suas crenças”, completou.
(Veja.com.br)
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