EPIDEMIA DE FOME
A menina iemenita Amal Hussain, de 7 anos: vítima de um conflito que se
arrasta há 3 anos e meio - 08/11/2018 (Tyler Hicks/The New York
Times/Fotoarena)
Cinco organizações de ajuda internacional apelaram ao governo dos Estados Unidos para que suspenda seu apoio militar à coalizão comandada pela Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos que atuam na guerra civil do Iêmen.
As entidades insistem que essa medida salvará milhões de vida e que, se
não for adotada, Washington será responsabilizado pela maior “epidemia”
de fome.
“Os números no Iêmen são chocantes e têm de ser expostos claramente: 14 milhões de pessoas
estão em risco de morrerem de fome no Iêmen se as partes do conflito e
os seus apoiadores não mudam de curso imediatamente”, afirmaram as cinco
organizações, em um comunicado conjunto. A fome não pode ser usada como
arma de guerra contra civis do Iêmen.”
O texto foi assinado pelo Comitê de Resgate Internacional, Oxfam
America, Care US, Save de Children e o Conselho Norueguês para os
Refugiados, segundo das redes de televisão CNN e Al Jazeera. Nos três
anos e meio de conflitos entre os rebeldes houtis, apoiados pelo Irã, e
as forças do governo, escudadas pela coalizão saudita, destruíram a
economia do real país e causaram aumento da inflação e desvalorização da
moeda local.
Cerca de 10.000 pessoas foram mortas, entre as quais os 51 passageiros – 40 deles crianças – de um ônibus escolar em Dahyan,
na província Saada, bombardeado pelas forças sauditas. O conflito
persistente está levando o país à pior fome do mundo nos últimos 100
anos, com metade da população em risco de morrer de desnutrição.
Os bombardeios recorrentes à região do porto de Hodeidah,
principal porta de ingresso de bens importados e da ajuda humanitária
internacional, têm atingido civis que buscam, nessa área, os alimentos,
medicamentos e assistência que não encontram em seus locais de
residência.
Na última quarta-feira (21), a Save de Children anunciou sua
estimativa de que 85.000 crianças morreram de fome e doenças
relacionadas desde o início da guerra. Até final do ano, esse número
poderá subir para 590.000. No mesmo dia, o secretário de Defesa dos
Estados Unidos, James Mattis, afirmou que as negociações de paz entre os
houthis e o governo deverão começar em dezembro, com participação
“plena” da Arábia Saudita e dos Emirados.
O Reino Unido elaborou um rascunho de resolução sobre a suspensão das hostilidades no Iêmen por duas semanas para ser apresentado ao Conselho de Segurança das Nações Unidas,
segundo a CNN. A trégua teria o objetivo de permitir o ingresso da
ajuda humanitária no país. A expectativa é que o texto seja votado em
breve.
“Se os governos do Iêmen, da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes
Unidos, os houthis e as outras partes do conflito fracassarem, e se os
Estados Unidos não usarem todos os meios de pressão para compeli-los a
um acordo, a responsabilidade pelas mortes de muito mais civis do Iêmen
não recairá somente sobre as partes do conflito, mas também sobre os
Estados Unidos”, diz o comunicado.
Para as cinco organizações, todos esses atores estão implicados no
conflito, por meio de transferências de armas, e na crise humanitária,
que é “totalmente feita pelo homem”. Ao prover apoio extensivo militar e
diplomático, os Estados Unidos estão aprofundando e prolongando uma
crise que traz consequências imediatas e severas para o Iêmen, “com os
civis pagando o preço”, diz o documento.
A Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos ingressaram no conflito
entre os houthis e o governo do Iêmen, com ajuda americana, em 2015. O
objetivo da coalizão é reinstalar o governo de Abd-Rabbu Mansour Hadi.
Dados coletados pela Al Jazeera e pelo Projeto de Estatísticas do Iêmen
constataram terem ocorrido 18.000 ataques aéreos no país, com pelo menos
um terço dos bombardeios em áreas não militares – cerimônias de casamento e de funerais, escolas e hospitais, usinas de eletricidade e de água foram atacados.
(Veja.com.br)
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