BRASIL, POLÍTICA
MEDIADOR - O ministro Dias Toffoli, presidente do STF: “A Lei da Ficha Limpa é assim. E ponto” (Cristiano Mariz/VEJA)
“Decisão do Supremo não se discute, cumpre-se”, dizia não faz tanto
assim o deputado Ulysses Guimarães (e repetiam todos os políticos). Os
tempos mudaram. No século passado, o time da toga era formado por dois
ou três craques do mundo jurídico e nenhum dos que completavam o grupo
pisava na bola ou a despachava para o pau de escanteio depois de
recebê-la a um metro do gol. Hoje, gracas às performances coletivas da
cúpula do Poder Judiciário, a frase cunhada por Ulysses só é recitada
pelos muito ingênuos, pelos muito cínicos ou por beneficiários de
decisões absurdas, insustentáveis e inverossímeis.
Os brasileiros vão aprendendo que, como nos demais Poderes
da República, também os juízes do Supremo têm seus salários (além dos
privilégios, penduricalhos e bandos de assessores) bancados pelos
pagadores de impostos. A gente comum vai descobrindo que os ministros do
Supremo Tribunal Federal são funcionários públicos. Que uma toga não
transforma ninguém em semideus, nem confere a quem a veste o dom da
infalibilidade. Assim, decisões do STF — que, aliás, frequentemente
dividem ao meio a própria Corte — devem ser cumpridas, mas os cidadãos
têm o direito de discuti-las, criticá-las e mesmo contestar-lhes a
legitimidade
De costas para tais obviedades, o ministro Dias Toffoli resolveu
proibir os brasileiros de enxergar os erros, caprichos, abusos e outros
filhotes da insolência e da arrogância epidêmicas que há muitos anos vêm
corroendo a credibilidade e o respeito que o tribunal mereceu no
passado. Se esse aleijão entrasse em vigor, ninguém poderia fazer
denúncias ou acusações envolvendo ministros do Supremo. Pergunta o
Brasil decente: a restrição também valeria para quem se dispusesse a
revelar, em delações premiadas, bandidagens praticadas por algum dos 11
ministros? E se Paulo Preto, por exemplo, decidisse contar o que fizeram
seus padrinhos acampados em tribunais superiores?
Por essas e outras, a Lei de Toffoli terá o mesmo destino reservado
pelo Brasil democrático a tantas leis da mordaça articuladas por
liberticidas de carteirinha: a lata de lixo da História.
(por:Augusto Nunes)
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