O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, durante reunião de negociações entre o Mercosul e a União Européia - José Cruz/Agência Brasil
Brasília - Após reunir-se na tarde desta terla, em São Paulo, com produtores de proteína animal, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, disse que a continuidade da paralisação dos caminhoneiros pode significar falta de carne nas prateleiras dos açougues e supermercados. Representantes do setor admitem também aumento de cerca de 30% no preço dos produtos.
“Se não tem como alimentar os mercados, as plantas, vai
faltar para a população”, falou o ministro a jornalistas. Segundo
Maggi, o prazo para normalização das atividades e transportes de carga
seria quinta-feira. “Os relatos deles (dos representantes do setor) aqui
hoje é que, na melhor das hipóteses, até quinta-feira desta semana eles
não terão como tratar mais de 1 bilhão de aves e 20 milhões de suínos.
Temos uma capacidade de abate de 23 milhões de aves por dia e essas
aves, não sendo abatidas, elas entrarão em colapso e irão morrer de
forma natural por falta de comida ou de nutrição”, acrescentou.
Levantamento divulgado ontem pela Associação Brasileira
de Proteína Animal (ABPA) alerta para um aumento na mortandade de
animais nos polos de produção pelo país por falta de alimentação, uma
vez que os bloqueios nas estradas impede a chegada de ração.
Maggi explicou que uma das preocupações do setor é em
relação ao aprimoramento genético das aves, que pode ser perdido. “O
sistema de produção de aves vem da parte genética, das bisavós para as
avós e vem das matrizes, de onde saem os ovos para nascer os pintinhos.
Se perdemos esse estoque de bisavós e de avós que temos no Brasil, que é
o material genético, que também é exportado, vamos perder a sequência
do que fizemos. E poderemos demorar até dois anos e meio para recuperar o
que temos hoje na avicultura. Isso significa dizer que o Brasil passará
de um grande exportador de aves para um importador em pouco tempo”,
falou o ministro.
Aumento nos preços
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias
Exportadoras de Carne (Abiec), com a paralisação dos caminhoneiros, o
setor deixou de faturar US$ 170 milhões com exportações. “Estamos com
120 frigoríficos parados (entre cerca de 290 frigoríficos que abatem no
país). A parte de insumos está totalmente prejudicada. Não há mais como
não aumentar preço em relação ao estrago feito (pela paralisação)”,
disse Antonio Jorge Camardelli, presidente da Abiec.
Segundo ele, ainda não é possível avaliar de quanto
seria esse aumento porque não foi feito um levantamento sobre o prejuízo
dos produtores. No entanto, segundo cálculos feitos pela ABPA – e
considerando que a paralisação terminaria domingo - o valor de aumento
para o consumidor poderia ser de até 35% no caso das aves e de 25% a 30%
no caso de suínos.
“Tínhamos uma estimativa de que levaríamos dois meses
para voltar ao fluxo normal. Que ficaríamos com uma perda,
principalmente de exportação, de US$ 350 milhões. E teríamos uma redução
de produção e aumento de custo em que seria viável a recuperação. Mas, a
partir dessa nova perspectiva de que continuamos com mais de 170
frigoríficos parados, com mais de 1 bilhão de animais no campo sem poder
receber alimentação e sem poder ser abatido, estamos prevendo dois
impactos extremamente sérios na nossa cadeia: o primeiro é o aumento de
preço do nosso produto o segundo é que a recuperação da nossa cadeia
produtiva vai precisar de aporte financeiro governamental”, disse Rui
Eduardo Saldanha Vargas, diretor técnico da ABPA.
O tempo de recuperação do setor, disse Camardelli, será
longo. “No caso da cadeia bovina, tenho 1,4 mil (animais) na rua,
trancados e presos. E tenho perecibilidade dos produtos. Se essa crise
não se resolver até quinta-feira, seguramente o ciclo está quebrado. As
programações não serão oferecidas de acordo com o cronograma", disse,
acrescentando que os empregos do setor também estão prejudicados.
Crédito
Os representantes do setor disseram à imprensa que será
preciso crédito do governo para que os produtores enfrentem os
problemas provocados pela greve dos caminhoneiros. Mais cedo, em
entrevista exclusiva à EBC, o ministro Blairo Maggi já havia admitido a
necessidade de crédito para auxiliar o setor. “O setor vai demandar
crédito do governo senão vai ser um problema a mais que vai se refletir
em inflação”, disse Camardelli.
(Por
Agência Brasil)
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