O presidente Michel Temer em pronunciamento - José Cruz/Agência Brasil
Brasília - Após reunião com pelo menos 15 caminhoneiros
autônomos de vários estados, que levaram uma pauta de reivindicações
para por fim à crise de abastecimento no país, o governo Temer concordou
em reduzir o preço do litro de óleo diesel em R$ 0,46 na bomba - o que,
segundo o presidente corresponde aos valores de PIS/Cofins e Cide. O
desconto no valor foi estendido de 30 dias para 60 dias e, após esse
prazo , será reajustado mensalmente. Temer editou três medidas
provisórias para isentar de pedágio em todo território nacional os
veículos com eixos suspensos, garantiu 30% dos fretes da Conab (que é a
companhia de abastecimento do governo) para autônomos, e criou uma
tabela mínima de frete. As medidas foram anunciadas ontem em cadeia
nacional pelo presidente.
Embora tenha concordado com várias reivindicações dos
caminhoneiros, as medidas não asseguram o fim imediato da paralisação.
Os caminhoneiros preferiram não se desmobilizar até quinta-feira. Em São
Paulo, os pontos de bloqueio caíram de 220 para 32.
O grupo reforçou a pauta já apresentada na quinta-feira
- com pedido de medida provisória para uma nova política de remuneração
do frete e um decreto presidencial para zerar o PIS/Cofins - e também
novos pedidos - como garantir 30% do transporte da carga dos Correios
para motoristas autônomos. "Nossa pauta é mais gorda que a apresentada
antes", disse Gilson Barbosa, representante do Movimento de Transportes
de Grãos, de Mato Grosso. O encontro tem representantes autônomos de
estados como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Goiás, São
Paulo e entorno do Distrito Federal.
"Quero confirmar a validade de tudo o que foi feito pelas lideranças e
ministros. Mas, nas últimas 48 horas, seguimos em conversas com líderes
do movimento e avançamos em várias medidas. A primeira reivindicação dos
caminhoneiros, o preço do diesel, terá um desconto de 46 centavos por
litro. Essa redução corresponde aos valores do PIS/Cofins e do CID
somados", disse Temer.
"O preço do óleo diesel será mantido pelos próximos 60
dias, sem modificação. A partir daí, só haverá reajustes mensais. Assim,
cada caminhoneiro poderá prever melhor seus custos. O terceiro ponto é a
edição de uma Medida Provisória para a isenção da cobrança do eixo
suspenso nos pedágios em todas as rodovias. Também assinei Medida
Provisória para 30% dos fretes da Conab. Estabeleceremos a tabela mínima
de frete. Esta decisão foi tomada após diálogo com o senador Eunício
Oliveira".
"Estou sensibilizando os caminhoneiros, compreendendo
suas naturais angústias, tomamos estas medidas por meio do diálogo e a
autoridade. Fizemos nossa parte para atenuar os problemas. As medidas
que acabo de anunciar atendem, praticamente, à todas as reivindicações
que foram manifestadas", finalizou o presidente.
Essas determinações deverão constar em medidas
provisórias a serem publicadas em edição extra no Diário Oficial da
União. A expectativa do Palácio do Planalto é que a paralisação, que já
dura sete dias e causa enormes prejuízos e transtornos em todo o país,
termine logo.
A equipe econômica foi chamada ao Palácio para calcular
o impacto das novas vantagens concedidas ao setor. Durante todo o dia,
custos, cortes e compensações foram avaliados. Além de restrições
orçamentárias, empecilhos legais tiveram de ser examinados.
Na primeira rodada de negociações com os caminhoneiros,
quando se acordou que a Petrobras baixaria em 10% o preço do diesel nas
refinarias durante 30 dias, e os caminhoneiros fariam uma trégua de 15
dias na paralisação, o Ministério da Fazenda estimou em R$ 5 bilhões o
valor das compensações do Tesouro Nacional à estatal. Agora, com a
validade do congelamento do preço nos postos – e não na refinaria – pelo
dobro do tempo, as despesas serão proporcionalmente elevadas.
Panelaço em bairros do Rio
Durante o pronunciamento de Temer, foram registrados
panelaços em vários bairros do Rio, principalmente nas Zonas Norte e
Centro. Houve manifestações na Tijuca, Vila Isabel, Grajaú, Estácio,
Lapa, Botafogo e Humaíta.
Aerportos estão sem combustível
A falta de combustível já afeta aeroportos em todo
país. Neste domingo, pelo menos 12 ficaram sem querosene de aviação e
tiveram o tráfego aéreo interrompido. De acordo com a Infraero,
passageiros devem procurar a companhia aérea para confirmar os
respectivos voos.
"Os aeroportos estão abertos e têm condições de receber
pousos e decolagens. Nos terminais em que o abastecimento está
indisponível no momento, as aeronaves que chegarem só poderão decolar se
tiverem combustível suficiente para a próxima etapa do voo", diz a
Infraero, em nota.
Até às 22h20 deste domingo, os aeroportos que estavam
sem combustível eram: Brasília, Ribeirão Preto, Pampulha, São José dos
Campos, Uberlândia, Ilhéus, Campina Grande, Juazeiro do Norte, Aracaju,
Maceió, Joinville e João Pessoa
Prejuízo de R$ 10 bilhões à economia
A paralisação dos caminhoneiros entrará no oitavo dia e
já provoca uma perda de ao menos R$ 10,2 bilhões à economia do país, de
acordo com cálculos do jornal "Folha de S.Paulo". Após sacrificarem
mais de 64 milhões de aves por falta de alimento, produtores rurais
foram ao Planalto entregar uma carta de manifestação ao presidente
Temer. De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o
prejuízo é de R$ 3 bilhões.
Além disso, a Câmara Brasileira da Indústria da
Construção (CBIC) estima perdas de R$ 2,4 bilhões no setor, enquanto a
indústria de frangos e suínos contabiliza prejuízo de R$ 1,8 bilhão, com
lotes de carnes que não conseguiram ser despachadas para o mercado
interno e para exportação. A Associação Brasileira de Indústrias
Exportadoras de Carne (Abiec), por sua vez, que cuida da parte de carne
bovina, crê que a paralisação de caminhoneiros tenha gerado danos de R$
620 milhões.
A Confederação da Agropecuária (CNA) avalia que a greve
gerou R$ 1,1 bilhão aos produtores nacionais, incluindo os de leite.
Mais R$ 1 bilhão deixou de ser faturado no setor farmacêutico, e outro
R$ 1,3 bilhão no automotivo. O comércio eletrônico registrou queda de R$
280 milhões no faturamento na última semana.As empresas aéreas também
perderam R$ 50 milhões, que ainda cita R$ 546 milhões de danos à
indústria do café.
(Com informações da Agência Brasil)
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