MERCADO FINANCEIRO
A Bolsa brasileira emendou a
quarta baixa nesta segunda-feira (28), afundou mais de 4% e perdeu os
ganhos que acumulava no ano, com o mercado todo de olho nos
desdobramentos da paralisação de caminhões no país e temores de que
as contas públicas já possam ser afetadas. O dólar se aproximou de R$
3,73.
O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas da Bolsa,
despencou 4,49%, para 75.355 pontos, menor patamar desde 22 de dezembro
do ano passado. No ano, passou a acumular queda de 1,37% -até sexta
(18), antes dos protestos, registrava alta de 8,74%.
O giro
financeiro foi de cerca de R$ 11 bilhões, em dia marcado pelo menor
fluxo de estrangeiros com as bolsas americanas fechadas devido a feriado
nos Estados Unidos.
As ações da Petrobras despencaram pelo oitavo
pregão seguido. Os papéis preferenciais (mais negociados) caíram 14,6%,
para R$ 16,91, enquanto os ordinários (com direito a voto) recuaram
14,07%, a R$ 19,79.
Desde que a paralisação começou, a Petrobras perdeu R$ 120 bilhões em
valor de mercado e deixou de ser a empresa mais valiosa da Bolsa.
Valendo R$ 248,1 bilhões, caiu para a quarta posição, superada por
Ambev (R$ 311 bilhões), Vale (R$ 270 bilhões) e Itaú Unibanco (R$ 265
bilhões).
Confirmando os pronunciamentos do governo, a Petrobras
anunciou oficialmente o mercado que nesta segunda que manterá por 60
dias uma redução de R$ 0,46 no preço do diesel e que, após esse prazo,
os reajustes passarão a ser mensais, e não mais até diários como dita a
política da companhia em vigor.
A companhia disse que será ressarcida pela União pela redução
adicional -além da já anunciada na semana passada, de 10% no diesel por
15 dias- e que isso não haverá prejuízos ao caixa.
"O fato de que a
viabilidade da política de preços da Petrobras depende da concessão
subsídios ainda deve levar a questionamentos no mercado", escreveu a
equipe de estratégia e análise da XP Investimentos em relatório a
clientes. "Ainda restam dúvidas sobre como será a forma de pagamento do
reembolso pelo governo (e como isso impactará resultados), e qual o
nível de prêmio e margens de refino que a empresa conseguirá manter
quando retomar os reajustes de diesel após 60 dias."
Uma pessoa
próxima à estratégia da Petrobras disse à agência Reuters que a
companhia quer receber antecipadamente os recursos referentes ao
congelamento do diesel por 60 dias anunciado pelo presidente Michel
Temer, até para que não haja uma má sinalização para o mercado, que já
penalizou duramente suas ações temendo comprometimento de receitas e a
possibilidade de novas interferências governamentais na estatal.
Em
nota a clientes, a equipe do banco suíço UBS ponderou que que a mudança
na política de preços poderia levar a alterações na gestão da empresa. O
risco de uma renúncia do presidente da Petrobras, Pedro Parente, também
deixa investidores tensos. O executivo é visto com bons olhos pelo
mercado porque acabou com a política de controle de preços dos
combustíveis pela estatal.
A crise dos combustíveis contaminou
quase todo o mercado acionário brasileiro ao evidenciar fragilidades do
governo federal e após economistas apontarem impactos nas contas
públicas.
Ao todo, o custo fiscal do governo para atender aos
pedidos da categoria de caminhoneiros chega a R$ 13,5 bilhões, que serão
compensados por cortes de gastos e aumento de outros impostos. Assim,
segundo explicou o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, chegou-se ao
limite do teto de gastos deste ano, sem sobra em relação às metas
fiscais.
Pesquisa Focus do Banco Central mostrou que o mercado
reduziu a projeção de crescimento da economia brasileira neste ano,
depois de uma semana de paralisação de caminhoneiros, com a mediana das
estimativas do PIB (Produto Interno Bruto) caindo a 2,37%, ante
2,5% antes.
"Não é mais só questão de preocupação com
abastecimento e outros problemas, é um questão de PIB, estamos começando
a ter impacto muito ruim e isso contamina os ativos", diz Cleber
Alessie, da corretora HCommcor.
AÇÕES
Das 67 ações que compõem o Ibovespa, 65 caíram e apenas duas subiram -ambas do setor de celulose.
As
siderúrgicas foram atingidas em cheio pelo momento nacional conturbado.
A CSN caiu 10,4%, a Gerdau recuou 6,25% -a Metalúrgica Gerdau, sua
holding controladora, perdeu 7,51%- e a Usiminas recuou 7,33%. A Vale
conseguiu se segurar mais e caiu 0,8%.
A equipe de estratégia
da XP Investimentos estimou que as siderúrgicas podem perder até 20 por
cento do faturamento de maio, ou 7% do trimestre.
Analistas do BTG
Pactual afirmaram em nota a clientes, citando um "exercício teórico",
que a cada cinco dias úteis de paralisação o impacto nas vendas das
siderúrgicas brasileiras listadas seriam de: perda de 7% do Ebitda
(lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) para
Usiminas, 4% para Gerdau e 3% para CSN.
A concessionárias também
sofrem com a queda no fluxo de caminhões nas estradas e são
afetadas pela medida anunciada pelo governo de estender para rodovias
estaduais e federais a isenção da cobrança de pedágio pelo eixo suspenso
(vazio). A Ecorodovias caiu 6,17%, e a CCR, 4,53%.
O cenário
político frágil e a fuga da investidores estrangeiros pressionam as
ações dos bancos. Os papéis do Itaú Unibanco recuaram 4,23%. As ações
preferenciais do Bradesco caíram 4,23%, e as ordinárias se
desvalorizaram 3,44%. O Banco do Brasil despencou 7,34%, e
as units -conjunto de ações- do Santander Brasil perdem 3,66%.
As
altas ficaram por conta da Suzano (+1,53%) e Fibria (+1,14%). Apesar
de a Suzano ter anunciado que paralisaria suas operações e a Fibria ter
decidido reduzir o ritmo de produção nas fábricas em Jacareí (SP) e Três
Lagoas (MS), as ações dessas empresas são consideradas mais seguras em
cenários turbulentos, porque mantém forte relação com o dólar, que se
valoriza ante o real no dia.
CÂMBIO
Com a grande aversão ao risco, investidores buscaram proteção no dólar.
O dólar comercial subiu 1,63%, para R$ 3,729. O dólar à vista também avançou 1,63%, mas para R$ 3,72.
"O
mercado está focado no problema fiscal, com o impacto que as medidas
vão ter nas contas públicas", afirmou o diretor de câmbio da assessoria
de câmbio FB Capital, Fernando Bergallo. "Outras paralisações podem
elevar o rombo."
A FUP (Federação Nacional dos Petroleiros) convocou uma paralisação de 72 horas a partir de quarta (30).
O
BC vendeu integralmente a oferta de até 15 mil novos swaps cambiais
tradicionais, equivalentes à venda futura de dólares, totalizando US$
5,75 bilhões desde a semana retrasada, quando vendia por dia até
5.000 contratos.
A autoridade também vendeu integralmente a oferta de até 4.225 swaps
tradicionais para rolagem do vencimento de junho, no total de R$ 5,650
bilhões.
(Com informações da Folhapress)
Nenhum comentário:
Postar um comentário