MP vai investigar relatos de sequestros de caminhoneiros durante a greve - Tomaz Silva/Agência Brasil
São Paulo - No
10º dia de paralisação, os grupos de WhatsApp dos caminhoneiros já
tinham até anúncio de frete com cargas no Brasil, Argentina e Chile.
Profissionais da área buscavam motoristas interessados em fazer as
viagens com embarque imediato, mas eram logo repreendidos por outros
participantes do aplicativo.
"Amigo, estão todos em greve, quem vai
carregar?", questionava. A resposta tentava remediar a situação: "É para
depois da greve".
Com alguns trechos desbloqueados pelo País, o
sentimento de muitos motoristas era de que estão "morrendo na praia",
como se não tivessem conquistado nada. Até áudios com a informação de
que o presidente Michel Temer havia vetado a queda de R$ 0,46 do diesel
circularam pelo aplicativo, o que gerou uma onda de indignação.
O tom dos discursos nesta quarta-feira era um misto de
decepção e inconformismo. Em vídeos gravados em vários locais do País,
lideranças ainda tentavam manter o ânimo dos caminhoneiros para que
continuassem parados, pelo menos, até esta sexta-feira, dia 1º. Vários
deles faziam boletins para mostrar como estava cada ponto de paralisação
pelo País.
"Muitos estão desanimados, sem roupa limpa, sem
dinheiro e cansados. Mas a determinação é ficar até sexta-feira na
estrada. Ou se ganha ou se perde a guerra, não tem meio-termo",
discursava um caminhoneiro, em áudio enviado nos grupos. A maioria deles
prefere gravar a escrever textos. Desde a semana passada, o jornal O
Estado de S. Paulo participa de três grupos de caminhoneiros, sendo cada
um deles com cerca de 300 participantes.
Intervenção
Durante a greve, os discursos mudaram várias vezes. Até
o acordo anunciado pelo presidente Michel Temer, no domingo, a
reivindicação girava em torno do preço do diesel e do pedágio. Mas,
depois do pacote, um "espírito nacionalista" tomou conta dos grupos da
categoria, que viam na intervenção militar a solução para todos os
problemas.
Até segunda-feira, havia caminhoneiros que acreditavam
na tese de que, passados sete dias e seis horas da greve, o Exército
poderia assumir o poder. O prazo acabou e não houve intervenção. Isso
fez com que a "lua de mel" dos caminhoneiros com o Exercito acabasse.
"Eles também são uns vendidos, estão com o governo", afirmavam nas
mensagens.
Nesta quarta-feira, com os grupos mais esvaziados, a
maioria demonstrava irritação pela falta de apoio da população, apesar
da notícia de que 87% dos brasileiros apoiam a greve. "São favoráveis à
paralisação, mas correm para fazer filas nos postos e encher o tanque do
carro", reclamava um deles. Outro dizia: "Vou embora para minha casa
porque esse povo não merece meu esforço".
Houve até alguns participantes mais radicais pedindo
ajuda de criminosos para quebrar e botar fogo nos carros de quem estava
na fila dos postos para abastecer. "Vamos chamar os meninos do mal e
mandar colocar fogo nos carros na fila", incitava um participante, por
meio de áudio.
Convocação
Para os caminhoneiros, o povo deveria ajudá-los a fazer
uma greve geral. "Todos deveriam chegar em suas empresas, conversar com
os colegas de trabalho e pararem. Vão todos para a rua e nos apoiem."
Uma manifestação no País inteiro estava sendo convocada nesta quarta
pelos integrantes dos grupos: "Repassem essa mensagem para o máximo de
grupos que vocês tiverem. Precisamos parar o País", insistiam.
As mensagens de apelo para que a sociedade apoiasse a
categoria tomou conta de boa parte das postagens nesta quarta. O
objetivo: "Derrubar o governo por um Brasil melhor".
(Tomaz Silva/Agência Brasil)
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