LAVA JATO
Bunker - A Lava-Jato continuou produzindo cenas impressionantes em 2017:
a Polícia Federal apreendeu 51 milhões de reais escondidos em um
apartamento usado pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima, que está preso em
Brasília (Policia Federal/Divulgação)
Se até hoje, quase nove meses depois da apreensão pela Polícia Federal de mais de R$ 51 milhões em dinheiro em um apartamento em Salvador, os irmãos Geddel e Lúcio Vieira Lima não reivindicaram a propriedade nem deram explicações sobre a origem da fortuna, tem quem o faça.
Diferentemente da Procuradoria-Geral da República,
que afirma em denúncia que o dinheiro tem origem em propinas da
construtora Odebrecht, o empresário baiano Carmerino Conceição de Souza
acha que é dele.
E diz mais: os R$ 51 milhões apreendidos no âmbito da
operação Tesouro Perdido, em setembro, seriam parte de um montante de R$
65 milhões que ele afirma ter repassado em dinheiro a um intermediário
de Geddel – e do qual não recebeu a contrapartida acertada com o
ex-ministro, uma carta-fiança da Caixa Econômica Federal para
fundamentar um pedido de financiamento no valor de R$ 110 milhões junto
ao BNDES. “Até hoje, não houve a aplicação”, disse.
Segundo Carmerino, a negociação foi acertada pessoalmente com Geddel “no
final de 2012 ou início de 2013”, quando o ex-ministro era
vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa.
Ele relata que o dinheiro foi entregue por um de seus sócios entre os
meses de outubro e dezembro de 2015 na superintendência de Pessoa
Jurídica na Bahia. À época, Geddel não estava mais na Caixa. Ele foi
exonerado em dezembro de 2013.
Segundo o empresário, foram “mais de dez” entregas. “No total, foram
225 envelopes cheios de notas de R$ 50 e R$ 100, guardados em 19
malotes”, disse, citando as mesmas características do dinheiro
apreendido pela Polícia Federal.
Carmerino afirma “acreditar” que tenha os recibos dessa transação.
“De qualquer forma, deve ter imagem de câmeras de segurança mostrando as
entregas dos malotes. Já pedi isso à Caixa, mas eles não me atendem.
Quando chego lá, parece que sou um fantasma.”
Ele nega que a transação com Geddel tenha sido pagamento de propina.
“Não tem por que pagar propina. Dei o dinheiro para receber a
aplicação”, disse. Afirmando conhecer Geddel há pelo menos 20 anos,
Carmerino disse não acreditar que o ex-ministro tenha agido de má-fé.
“Se ele guardou esse dinheiro, é porque não tinha nenhuma maldade”,
afirmou.
Segundo ele, os pagamentos “à Caixa” foram feitos em dinheiro porque é
assim que suas empresas recebem da maioria de seus clientes. “Tratamos
com muita gente ‘negativada’, que não podem usar a conta bancária. Por
isso recebíamos muito em dinheiro. Mas estamos mudando isso”, disse.
O empresário se apresenta como presidente do grupo Polocal, holding
que reúne mais de 30 empresas em 19 Estados, com cerca de 300
funcionários. As atividades do grupo vão da manutenção predial à venda
parcelada de veículos. O faturamento anual, segundo ele, é de cerca de
R$ 300 milhões.
Busca
Carmerino disse que após a apreensão dos R$ 51 milhões e a posterior
prisão de Geddel, iniciou uma verdadeira peregrinação atrás do dinheiro.
Procurou a PF em Salvador e pediu para visitar o ex-ministro, que está
preso desde setembro no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília.
A PF o orientou a procurar a defesa de Geddel, o que foi feito
diversas vezes e insistentemente, segundo o advogado Gamil Foppel. Em
petição enviada à PF, cujo conteúdo foi revelado pela coluna Satélite,
do jornal Correio, de Salvador, Foppel informa que o empresário “tem
insistido em buscar contato com este peticionário e demais advogados do
escritório, passando a proferir expressas ameaças contra a defesa
técnica”.
“A insistência do referido senhor já tem causado estorvo ao normal
funcionamento do escritório diante do número absolutamente elevado de
ligações diárias (que superam o total de duas dezenas)”, escreveu o
advogado.
Em resposta, Foppel orientou o empresário a procurar a PF “para que,
perante a autoridade policial, ele pudesse esclarecer os fatos que
julgasse pertinentes, notadamente sobre a sua alegada propriedade”. Ao
jornal O Estado de S. Paulo, o advogado disse que as alegações do empresário, “são absurdamente mentirosas”.
Carmerino diz que também tem procurado o deputado Lúcio Vieira Lima
(MDB-BA) e a Caixa, igualmente sem resposta. Sua intenção, diz, é apenas
reaver o dinheiro ou receber a carta-fiança. “Só preciso que Geddel
diga: ‘foi fulano de tal que pegou e, se esse dinheiro não aparecer na
Caixa, esse cidadão vai ter de explicar o que fez com ele”.
“Com relação à denúncia apresentada, a Caixa Econômica Federal
esclarece que irá apurar internamente as declarações do empresário e, se
necessário, acionará os órgãos competentes”, afirmou a Caixa em nota.
Procurado pela reportagem, o deputado Lúcio Vieira Lima não retornou os
contatos.
(Por
Estadão Conteúdo)
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