RIO DE JANEIRO
O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro durante a
intervenção federal na segurança fluminense, general Richard
Nunes (Marcelo Fonseca/Folhapress)
O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, general Richard Nunes, afirmou nesta quarta-feira, 21, que milicianos “com toda certeza” estão envolvidos nos assassinatos da vereadora carioca Marielle Franco
(PSOL) e do motorista dela, Anderson Gomes, em março deste ano. Em
entrevista à GloboNews, Nunes também foi questionado sobre se o crime
teve a participação de políticos e respondeu que “provavelmente”. Ele
afirmou ao canal a cabo esperar que o crime seja solucionado até o fim
da intervenção na segurança fluminense, em 31 de dezembro.
“Não é um crime de ódio – falei isso logo na primeira
entrevista que dei, em março, sobre isso. É um crime que tem a ver com a
atuação política, em contrariedade de alguns interesses. E a milícia,
com toda certeza, se não estava no mando do crime em si, está na
execução”, disse Nunes.
Segundo Richard Nunes, o inquérito do caso Marielle já tem catorze
volumes e descobriu alguns dos responsáveis pelos assassinatos. Ele
afirma, no entanto, que antes de prendê-los a polícia pretende reunir
provas irrefutáveis da participação deles no crime para que, quando
detidos, não sejam inocentados em julgamentos futuros.
“Nós não podemos ser precipitados porque no momento em que se prende,
por exemplo, um dos participantes – a gente poderia tentar fazer isso –
não prende os demais. Alguns participantes nós temos, com certeza,
agora o problema todo é esse: nós temos que criar uma narrativa
consistente ligando esses atores com provas cabais que não venham a ser
contestadas em juízo, no tribunal do júri”, disse. “Aí sim seria um
fracasso – que a sociedade não observasse esses criminosos sendo
efetivamente condenados”, completou o general.
Marielle Franco e Anderson Gomes foram assassinados na noite de 14 de
março de 2018, atingidos por tiros de submetralhadora dentro do carro
da vereadora no bairro do Estácio, no Centro do Rio. Os disparos vieram
de outro carro, que havia seguido a vereadora após um compromisso na
Lapa. Até hoje, ninguém foi preso.
O depoimento de uma testemunha-chave do caso, um PM, revelado pelo jornal O Globo,
envolveu o vereador Marcello Siciliano (PHS) e o miliciano Orlando
Oliveira de Araújo, o Orlando de Curicica, nas mortes de Marielle e
Anderson. Ambos seriam ligados a uma milícia e teriam interesse no
assassinato da vereadora por sua atuação na Cidade de Deus, que estaria
atrapalhando negócios da quadrilha em outras áreas de Jacarepaguá, Zona
Oeste do Rio. A testemunha trabalhou para milicianos e está sob proteção
policial.
Policiais envolvidos na apuração ressaltam que políticos do PSOL como
o deputado Marcelo Freixo negam que Marielle tenha liderado movimentos
na Cidade de Deus que poderiam comprometer ações da milícia. Freixo
destacou que a vereadora, que não tem base eleitoral na região, apenas
encaminhava denúncias de violações de direitos humanos ocorridas lá e em
outras áreas da cidade.
Desde abril a polícia tem informações sobre o suposto envolvimento de
outros políticos no assassinato de Marielle e do motorista Anderson
Gomes. Até agora, porém, não conseguiu reunir evidências dessa
participação. Siciliano e o ex-PM Orlando de Araújo, que está preso por
causa de outra acusação, negam qualquer ligação com a morte de Marielle.
(Veja.com.br)
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