
Marcelo Odebrecht foi condenado por crime de corrupção ativa pelo pagamento de vantagem indevida a Duque, Paulo Roberto Costa e Pedro José Barusco Filho, em razão do cargo ocupado por estes na Petrobras - Reprodução/ Facebook
Curitiba - Em interrogatório nesta quarta-feira, o
empresário Marcelo Odebrecht, delator da Operação Lava Jato, afirmou que
as reformas do sítio de Atibaia, no interior de São Paulo, estavam
ligadas à "pessoa física" do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O
petista é réu em ação penal por corrupção e lavagem de dinheiro, por
supostamente ter recebido propinas da Odebrecht e da OAS em reformas e
melhorias da propriedade rural. Ele será interrogado no dia 14. O
empreiteiro também é réu neste processo.
À juíza federal Gabriela Hardt, sucessora de Sérgio
Moro nos processos da Lava Jato, o empreiteiro contou que soube do sítio
de Atibaia quando "a obra já estava em andamento", em 2010. Odebrecht
citou o ex-executivo do Grupo Alexandrino Alencar e seu pai Emílio
Odebrecht.
"Deve ter sido lá para final de dezembro, em algum
momento eu soube não sei se por Alexandrino, pelo meu próprio pai ou por
alguém que eu me encontrei. Em algum momento eu soube, no início, eu,
inclusive, reagi, fui contra por duas razões específicas. Eu até
reclamei porque primeiro eu achava que eu achava que era uma exposição
desnecessária, porque seria até então, fora a questão que eu já sabia
que havia, que eu também tinha me posicionando contra, mas que era uma
coisa bem antiga, que era o assunto do irmão, o apoio ao irmão, mas pelo
que eu soube era uma coisa bem antiga e que foi renovado, chegou um
momento eu acho que acabou, fora essa questão, seria a primeira vez que a
gente estaria fazendo uma coisa pessoal para o presidente Lula", disse.
Ele citou a história de um terreno em São Paulo que sua
empreiteira iria adquirir para supostamente alojar as dependências do
Instituto Lula - episódio que sustenta uma outra acusação da
força-tarefa da Lava Jato contra o ex-presidente.
"Até então, por exemplo, tinha tido o caso do terreno
do Instituto. O terreno do Instituto, bem ou mal, era para o Instituto
Lula não era para a pessoa física dele (Lula)", seguiu Odebrecht em seu
relato à juíza.
"Quando eu vi lá, que eu soube, tinha um bando de gente
trabalhando na obra (do sítio). Quer dizer, a dificuldade de você
manter isso em sigilo, em algum momento vazar, era enorme. Outra coisa,
que é uma coisa mais pragmática, eu tinha uma discussão com meu pai, que
o alinhamento que eu tinha com ele era de que tentasse todo acordo que
ele fizesse com Lula, passar pelo contexto da planilha Italiano. Quer
dizer, a conta corrente que eu tinha com Palocci, para que a gente não
pagasse duas vezes."
O ex-presidente está preso em Curitiba desde 7 de
abril. Ele cumpre pena de 12 anos e um mês de reclusão, no processo do
caso triplex, também por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O
petista nega enfaticamente ter recebido valores ilícitos da empreiteira.
Durante a audiência, Gabriela Hardt perguntou a Marcelo
Odebrecht se Lula "tinha ciência da reforma que estava sendo custeada
em parte pela Odebrecht".
"Ah tinha, com certeza. E, olha, ele sabia que tinha.
Eu não escutei isso de Lula, mas meu pai sempre deixou isso claro para
mim que ele sabia que estava sendo custeado e, dentro de casa, todos nós
entendíamos que aquele sítio era de Lula", disse o delator.
"O que eu soube foi que esse pedido chegou via
Alexandrino, foi autorizado por meu pai e a obra era para o sítio do
presidente. Não entrei nos outros detalhes." O ex-presidente Lula nega
ser o dono do sítio.
Crocodilo
Em outro trecho de seu interrogatório, o empresário
disse que reclamou com seu pai sobre "valores muito altos" que o PT, via
ex-ministro Antônio Palocci, pedia ao grupo. Numa dessas ocasiões, o
patriarca da Odebrecht teria dito ao próprio Lula que o pessoal do PT ia
"da boca de jacaré para boca de crocodilo".
"De fato, em vários momentos reclamei de valores muito
altos. Falei com meu pai e, de alguma maneira, ele ia lá e reclamava com
o Lula. De fato, não foi uma ou duas vezes só que fui reclamar com meu
pai das demandas do Palocci, mais o Palocci, que estavam muito altas."
A juíza questionou Marcelo Odebrecht se, em determinada reunião, houve discussão sobre contratos de interesse da empresa.
"Eu não diria contratos, na verdade, a gente tratou os
temas. A gente nunca discutiu, eu, acho que meu pai também, nunca
discutiu detalhe de contrato com o presidente. A gente foi discutindo, a
agenda é bem clara", disse.
"Foram os temas que a gente achava relevante da
relação, seja da Odebrecht com o Governo, seja da Odebrecht com outros
países de Geopolítica brasileira, alguns temas que a gente sempre levava
para contribuir com o presidente de maneira institucional, com o país.
Quer dizer, não foi nada a ver com contrato. Eu, pelo menos, eu acho
que, meu pai também, nunca discutimos contratos, essas coisas, com os
presidentes."
A magistrada perguntou a Odebrecht se, no início do
Governo Lula, ele participou de reuniões para "reclamar de dificuldades
com diretoria de Petrobras".
"Não, não participei dessas reuniões. Essas reuniões
foram mais no contexto da Braskem. Em relação à Petrobras, por exemplo,
eu tinha uma discordância com meu pai. Eu sempre entendi que Petrobras
devia ser tratada pelos executivos que lidavam com a Petrobras, junto
aos diretores. Se isso incluía fazer contribuição política, eles que
deviam avaliar", relatou.
"Eu nunca levei, nunca tratei esse assunto Petrobras
por cima, digamos assim. Eu achava que isso devia ser conduzido pelos
executivos. Meu pai tinha uma visão um pouco diferente. Ele gostava do
tema Petrobras, principalmente relativo a relação Petrobras com Braskem,
então, ele costumava ter o tema Petrobras na agenda dele com o
presidente. Não estou dizendo que tratava-se nada ilícito, mas que o
tema Petrobras de modo geral, na agenda com o presidente."
Durante a audiência, o Ministério Público Federal
perguntou ao delator se ele sabia que os "líderes empresariais tinham
que efetuar pagamento no interesse do PT, PMDB, PP, no âmbito das
diretorias da Petrobras".
"Eu seria ingênuo se eu dissesse que eu não sabia. Eu confirmo que eu tinha ciência", declarou.
(por:Estadão Conteúdo)
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