Fabio Schvartsman escreveu carta para pedir afastamento da Vale (Valter Campanato/Agência Brasil)
A assessoria de comunicação da Vale divulgou, neste sábado 2, a carta em que o executivo Fabio Schvartsman pede um afastamento temporário da mineradora. Conforme o Radar antecipou, o conselho da empresa decidiu demiti-lo mais cedo.
No texto, Schrvtsman declara que deixa a
presidência em benefício da continuidade dos negócios da empresa – e
usa o termo “temporário” para comentar a decisão.
“É muito difícil para mim (…) retirar-me
da linha de frente, ainda que temporariamente, quando o desafio mais
agudo se apresenta. Mas essa frustração (…) é irrelevante quando
comparada à dor que se espalha entre milhares de pessoas neste momento e
deve ceder diante do valor maior de preservação dos interesses da nação
que a Vale representa”, declara.
O executivo abre a carta referindo-se à Recomendação nº 11/2019, enviada
ao conselho de administração da Vale e assinada por Ministério Público
Federal, Ministério Público do Estado de Minas Gerais, Polícia Federal e
Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, que integram a força-tarefa
que investiga a tragédia de Brumadinho.
No documento, entregue ontem, eles pedem o
afastamento de Scharvtsman e dos diretores executivos de ferrosos e
carvão, Peter Poppinga, de planejamento, Lúcio Flávio Gallon Cavalli, e
de operações do corredor sudeste, Silmar Magalhães Silva.
A Vale ainda não confirmou se os outros
diretores também estão deixando a empresa. De acordo com a assessoria de
comunicação da empresa, uma nota com a confirmação dos afastamentos
temporários de executivos deve ser divulgada ainda na noite de hoje.
Leia abaixo a íntegra da carta de Schrvtsman
Rio de Janeiro, 2 de março de 2019.
Ao Conselho de Administração da Vale S.A.
Senhores Conselheiros,
Tenho em mãos a Recomendação nº
11/2019, dirigida a esse Conselho pelo Ministério Público Federal em
conjunto com o Ministério Público do Estado de Minas Gerais e em atuação
coordenada com a Polícia Federal e a Polícia Civil do Estado de Minas
Gerais, da qual consta recomendação do imediato afastamento de certos
diretores e empregados da Vale, incluindo o meu próprio.
Como é do pleno conhecimento desse
Conselho, desde os dramáticos eventos de 25 de janeiro, venho dedicando
todos os minutos de meus dias e noites, no limite máximo de minhas
forças, às frentes de reação da companhia àqueles eventos, determinadas
por esse Conselho e por mim mesmo, em conjunto com os demais membros da
Diretoria, com absoluta priorização do atendimento às vítimas e às suas
famílias, à apuração direta e à cooperação com a apuração dos fatos e à
preservação das atividades da Vale, cruciais para o Estado de Minas
Gerais e para o Brasil.
Como esse Conselho de Administração
também não desconhece, foram desde logo adotadas pela Diretoria, sob meu
comando, todas as medidas necessárias à preservação da integridade da
informação disponível, para que a apuração independente dos fatos, pelas
autoridades e pelo Comitê imediatamente criado por esse Conselho por
proposta da Diretoria, possa ser realizada com a maior brevidade e
profundidade.
Desde o momento em que ocorreu a
tragédia que se abateu sobre as vítimas, suas famílias e sobre esta
companhia estratégica para os interesses do país, fiz questão de atender
pessoalmente a todas as demandas, da imprensa e das autoridades, sem
intermediação de quem quer que fosse, de maneira a transmitir
diretamente às vítimas, a suas famílias, à opinião pública, aos
acionistas e a todos interlocutores da Vale, o nosso compromisso com a
atuação mais adequada e de alto nível possível da companhia, no momento
mais grave de sua história.
Estou absolutamente convicto de que
minha atuação pessoal e a dos demais membros de nossa Diretoria, cujo
afastamento é agora solicitado, foi absolutamente adequada, correta e,
principalmente, fiel aos nossos valores inegociáveis de proteção à
segurança das operações da companhia, e às diretrizes nesse sentido
emanadas desse Conselho. Assim como estou absolutamente convicto de que a
continuidade de nossa atuação continuaria a ser a maneira mais eficaz
de a Vale obter e promover os melhores resultados em sua reação à
tragédia. Entretanto, há momentos em nossas vidas em que é preciso
sacrificar as convicções pessoais em benefício de um bem maior. E este é
um desses momentos, pois minha presença no comando da Vale passou a ser
percebida como inconveniente por autoridades que seguirão interagindo
diuturnamente com a companhia.
É muito difícil para mim, após
décadas de atuação como executivo de algumas das maiores empresas do
Brasil, e tendo colhido o reconhecimento de minha dedicação e apoio aos
milhares de colegas, colaboradores, acionistas e demais constituintes
com quem ombreei ao longo de todos aqueles anos na tarefa de gerar
empregos, riqueza, tributos e governança de primeiro nível, retirar-me
da linha de frente, ainda que temporariamente, quando o desafio mais
agudo se apresenta. Mas essa frustração daquilo que percebo como meu
dever de dedicação integral às vítimas, a suas famílias, a todos os
colaboradores da Vale e ao país, é irrelevante quando comparada à dor
que se espalha entre milhares de pessoas neste momento e deve ceder
diante do valor maior de preservação dos interesses da nação que a Vale
representa.
Por tudo isso, ainda que com a
absoluta convicção da retidão de minha conduta e do dever cumprido até
aqui, e certo de que a percepção dos fatos que levou à recomendação de
afastamento não corresponde absolutamente à sua realidade, tomei a
decisão, nesta hora, em benefício da continuidade das operações da
companhia e do apoio às vítimas e a suas famílias, de solicitar a esse
Conselho, respeitosamente, que aceite o pedido de meu afastamento
temporário das funções de diretor presidente da Vale.
Atenciosamente,
Fabio Schvartsman
(Com Estadão Conteúdo)
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