sexta-feira, 1 de junho de 2018

Um mês após tragédia, sem-teto seguem no Largo do Paissandu. Prefeitura admite impasse, mas diz que a maior parte das vítimas do incêndio do edifício Wilton Paes de Almeida já foi atendida

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 Famílias sem-teto que moravam no edifício Wilton Paes de Almeida recebem alimento de voluntários, no Largo do Paissandu, região central de São Paulo (SP) - 02/05/2018
 Segundo município, 126 famílias permanecem no Largo do Paissandu, no centro de SP, um mês após desabamento de edifício (Nacho Doce/Reuters)
 Bombeiros trabalham no combate ao incêndio que atingiu o edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, região central de São Paulo (SP) - 01/05/2018
 Bombeiros trabalham no combate ao incêndio que atingiu o edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, região central de São Paulo (SP) - 01/05/2018 (Cris Faga/NurPhoto/Getty Images)
Famílias sem-teto que moravam no edifício Wilton Paes de Almeida recebem alimento de voluntários, no Largo do Paissandu, região central de São Paulo (SP) - 02/05/2018
 Famílias sem-teto que moravam no edifício Wilton Paes de Almeida recebem alimento de voluntários, no Largo do Paissandu, região central de São Paulo (SP) - 02/05/2018 (Nacho Doce/Reuters)
 Escavadeira remove escombros de prédio do Largo do Paissandu, na região central de São Paulo (SP) - 02/05/2018
 Escavadeira remove escombros de prédio do Largo do Paissandu, na região central de São Paulo (SP) - 02/05/2018 (Nacho Doce/Reuters)

Passado um mês do incêndio e desabamento do Edifício Wilton Paes de Almeida, que deixou sete mortos no centro de São Paulo, ainda não há solução oficial à vista para o acampamento de sem-teto que surgiu na sequência no Largo do Paissandu. Segundo dados da própria Prefeitura, 126 famílias, algumas com até cinco crianças, se amontoam em barracas, em meio a lixo e roupas sujas.

“A gente fica aqui e eu estou esperando que venham dar moradia para a gente. Disseram que vão dar no dia 13”, disse a desempregada Deise da Silva Rodrigues, de 32 anos, mãe de cinco filhos, a mais nova ainda sendo amamentada, ao repetir alguns dos boatos que correm entre as barracas.

Deise já recebe auxílio-moradia da Prefeitura, por ter perdido a casa em um incêndio ocorrido na Favela do Moinho, na Barra Funda, há três anos. Usava parte do dinheiro para viver na ocupação. Ao perder o lar para o fogo pela segunda vez, tenta sobreviver mantendo as crianças perto de vista e esperando ajuda pública.

A prefeitura admite que existe um impasse sobre o atual acampamento e destaca que a maior parte das vítimas da tragédia já foi atendida. O posicionamento foi dado com base em visitas da Assistência Social concluídas um mês antes do incêndio, nas quais foram cadastradas 171 famílias no local — com vistas a uma futura desocupação. Do cadastro prévio, 144 famílias foram localizadas. “Algumas já vão receber o segundo cheque (de R$ 400 de auxílio-aluguel)”, disse o secretário da Habitação, Fernando Chucre.

As 126 famílias atualmente no Largo não estão nessa lista. Para elas, “o que a prefeitura pode fazer é todo dia ir lá oferecer abrigamento”. “É a ferramenta que temos”, ressaltou Chucre. Por noite, a prefeitura paga 60 pernoites para vítimas do incêndio. E soluções menos negociadas estão fora da mesa. “Existem garantias individuais de que o cidadão pode permanecer nos lugares. Não tenho, como força de Estado, falar ‘vem aqui e sai'”, disse o secretário da Segurança Urbana, José Roberto Rodrigues.

Experiência

“Nesse tipo de caso, é comum que você tenha um acidente que envolva 100 (pessoas) e apareçam 300 se dizendo morador”, afirmou o secretário, ao justificar a decisão. Mas Chucre admite que parte da ocupação do Wilton tinha famílias com “perfil transitório” — o que é um complicador.

“Uma família em algum momento pode ter passado por aquele edifício por um dia, uma semana, por um período indeterminado. Não temos controle sobre esse período.” Por causa disso, segundo ele, há 77 casos que estão sob análise, e deverão receber o benefício a partir do mês que vem.

Mesmo assim, a inclusão nos programas não é garantia de que o acampamento se desfaça. Há 26 famílias, por exemplo, que estão recebendo o benefício e permanecem lá, conforme a própria administração municipal. “A única coisa que quero é trabalhar. Sou segurança. Mas preciso ter um endereço para dar para o patrão”, diz Keliane Mendes da Costa, de 34 anos, que já trabalhou como manicure e como segurança.

Como ela, muitos usam o benefício municipal como “um complemento de renda”, nas palavras do secretário. Não existe auditoria sobre os valores ofertados, e a prefeitura também não indica moradias para as quais pessoas possam se dirigir

(Por Estadão Conteúdo)

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