Ciro Gomes participou de entrevista exclusiva em O DIA e disse apostar no voto das mulheres na reta final - Maíra Coelho / Agência O Dia
Rio - Terceiro lugar nas pesquisas, Ciro Gomes, de 60
anos, presidenciável do PDT, viu Fernando Haddad (PT) se distanciar mais
no último Ibope e encostar no líder Jair Bolsonaro (PSL). Apesar disso,
Ciro crê ser a terceira via, com chances de desbancar seus principais
adversários no segundo turno.
Em entrevista exclusiva ao DIA, nesta
terça-feira, ele disse apostar no voto das mulheres na reta final de
campanha. Criticou abusos do Judiciário e falou da participação dos
militares no atual quadro político. Horas depois, passou mal e foi
internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para cauterização de
vasos na próstata. Segundo a assessoria de imprensa, "não foi nada
grave".
Ciro Gomes: Com serenidade. Essas novelas não me
surpreendem mais. Claro que tem um efeito de abater um pouco a animação
da militância. Mas hoje em dia nem sequer muda o voto. Pesquisa é o
retrato do momento. E a vida não é retrato. É filme. Essas eleições
serão um terror para os institutos de pesquisas porque o eleitorado
brasileiro não estabilizou. No dia 29, está marcada uma manifestação
gigante das mulheres. As mulheres são 52% do eleitorado. E 51%, nessa
pesquisa, estão indecisas. Isso significa 25% do conjunto do eleitorado.
Ninguém tem uma diferença de 20 pontos para o outro. É possível até o
improvável: o (Jair) Bolsonaro (PSL) não estar no segundo turno.
O senhor acha possível ir ao segundo turno com o Fernando Haddad (PT)?
Tudo é possível. O PSDB tende a ganhar em São Paulo,
Rio e Minas Gerais. O Alckmin tem 5%, 7%? Não é razoável. Ele ganhará?
Não. Mas falo de São Paulo, onde o Dória está em primeiro; do Rio, onde o
Eduardo Paes também está; e de Minas, onde o Anastasia aparece folgado
na liderança. E se o Alckmin tem mais que a pesquisa indica? De quem ele
tira (votos)? O Bolsonaro é inorgânico. Mas é referência para o bem e o
mal. Não me abato. As minhas chances são grandes porque represento o
mais viável entre aqueles que não querem os dois (Bolsonaro e Haddad).
Mas por que Bolsonaro não iria ao segundo turno?
Há três meses, ninguém dava um centavo pelo Bolsonaro. O
que mudou foi a facada. Só que a facada está se precificando. Ele
parecia um pit stop, um protesto contra tudo, um antipetismo mais
radical. Mas o voto não se motiva negativamente. Quem diria que o
Alckmin, diante de toda a estrutura, com a metade do tempo de TV, não
apareceria sequer competitivo? Mas ainda o acho competitivo.
Não é delírio apostar em Bolsonaro de fora?
De forma nenhuma. Há um antipetismo forte que não se
sente com Bolsonaro e com as suas contradições, que serão hipertrofiadas
na reta final: as declarações malucas, o general Mourão, as mulheres.
Sou o anti-Bolsonaro não petista. O último debate (TV Globo), em 4 de
outubro, haverá 60 milhões de brasileiros assistindo. Um escorregão, uma
gaguejada, uma tossida, um pigarro, um malfeito, pode mexer.
Qual será a estratégia para o último debate?
Quero que as pessoas acreditem que eu seja o mais preparado, o mais experiente e ficha limpa.
Estrategicamente, então, não haverá mudanças?
Seguirei propondo. Na reta final, vou reprisar nos
programas (eleitorais na TV e no rádios) as propostas que ficaram mais
fortes, as quais os grupos qualitativos viram votos: limpar o nome do
SPC, ensino em tempo integral e dois milhões de empregos no primeiro
ano.
Acredita que o segundo turno já esteja
ocorrendo, com a polarização PT e o anti-PT e, com isso, o fim da
perspectiva de uma terceira via?
Evidente que não. Se você somar o Hadadd com o
Bolsonaro, sobra metade do eleitorado. Caso haja o voto útil na reta
final, que tende a haver, ele virá para mim. Eles estão forçando a mão
para antecipar o segundo turno. Dia 23 de setembro de 2014, o Ibope
publicou pesquisa. Dilma tinha 38%, Marina 29% e Aécio 19%. Vou dizer
que o Ibope estava vendido? Não. Mas errou feio.
Como ficará a governabilidade caso eleito?
Abri conversa com o Centrão. No PP, o Ciro Nogueira é o
meu eleitor. A Força Sindical, do Paulinho, está comigo. O ACM Neto, do
DEM, me apoia. No Rio, tenho campanha conjunta com o Eduardo Paes
apesar de eu apoiar o Pedro Fernandes. O Eduardo está pondo a minha
propaganda (nas ruas). O Pezão vota em mim. É um velho amigo e machucou o
meu coração. Ele disse ao telefone: "não apareço com você para não te
tirar voto e não te prejudicar". O PSB vota em mim no Distrito Federal,
Sergipe, Espírito Santo e no Rio Grande do Sul.
Os militares estão interferindo na política. Como o senhor avalia?
É um problema grave. As vivandeiras de quartel, como
dizia o (ex-presidente) Castelo Branco, estão aliciando, querendo
influir. O general (Eduardo) Villas Bôas (comandante do Exército), a
quem conheço e respeito, tem estilo de pôr na voz dele aquilo que ele
está sentindo de inconveniente dentro da tropa. Ele está começando a
sentir o movimento intervencionista, que é uma minoria. Ele convidou
todos os candidatos para sabatina no quartel general. Eu disse:
"general, não é próprio". Ele ficou constrangido e perguntou se eu
aceitava ir à casa dele. Aceitei. Foi uma conversa correta. Quero as
Forças Armadas prestigiadas, fortes e reconhecidas. Eles (militares)
podem ser candidatos, mas é um movimento organizado. Vou confrontar
custe o que custar.
E a governabilidade?
Não tem conversa. Debaixo da Constituição, eu mando e eles obedecem. A maioria dos militares quer isso.
Como ajudará no combate à violência no Rio?
Fazer um novo sistema unificado nacional de segurança
que troque a ideia de aparato, com tanques, armas, por inteligência e
tecnologia. No Rio, o caminho é infiltrar nas organizações criminosas,
no narcotráfico, nas facções, e começar a mapear o caminho do dinheiro e
mudar a legislação. Não há nada disso ocorrendo no Brasil. O PCC, em
São Paulo, debaixo do guarda-chuva das autoridades, está lavando
dinheiro e entrando na política. Qual é a ideia? Aumentar a capacidade
de investigação. A Polícia Civil do Rio não existe.
Como será a política para os servidores públicos federais?
Profissionalizarei a administração pública. Começarei
pela Saúde. Criarei um fundo de R$ 4 bilhões para premiar unidades
básicas de saúde que atingirem metas. Os prêmios permitirão até um 15º
salário para os profissionais.
E os aposentados?
A proposta é um sistema novo de capitalização em que a
mudança básica é: o trabalhador poupa para a própria aposentadoria.
Parte compulsoriamente, porque é garantida pelo teto do governo, e parte
voluntária, se ele quiser ter uma aposentadoria maior. Resolvi estudar e
a transição é perfeitamente praticável.
No Rio, o PDT apoiou os governos do PMDB. Cabral, Picciani e Eduardo Cunha estão presos por corrupção. Foi um erro?
Evidentemente, se a gente soubesse o que aconteceu,
teria sido um erro. Conheço o Sérgio Cabral. Era amigo do pai dele, como
um boêmio, poeta, cronista. Conheço o Cabral (ex-governador) desde
menino. Nunca o imaginei caindo de boca desse jeito vulgar. É
patológico. Não foi só roubar. Houve um deboche. Mas o PDT fez o que
tinha de fazer e rompeu quando achou que devia.
Um executivo da Queiroz Galvão afirmou em
depoimento ter repassado dinheiro de propina para o seu irmão, Lúcio
Gomes, em troca de liberar pagamentos de obras no governo do Ceará
durante a gestão de seu outro irmão, Cid Gomes.
Quais são os fatos? Em 2012, e nós estamos em 2018, o
meu irmão teria recebido colaboração de campanha por caixa dois de R$
1,1 milhão em espécie e não propina. O delator disse que nunca conversou
comigo. Disse que as relações sempre foram institucionais. O que eu
tenho a ver com isso? E por que a 15 dias da eleição se faz isso?
Qualquer brasileiro minimamente inteligente sabe que é um pseudo
escândalo. Tenho 38 anos de vida pública. Nunca respondi por uma
investigação. Nenhuma. Vou responder a 15 dias da eleição? Isso é para
influenciar no processo eleitoral.
Como será a relação com o Judiciário?
O poder político no Brasil colapsou. O Executivo
afundou numa crise de corrupção. O próprio presidente da República
(Michel Temer), pela primeira vez na História, é processado por
corrupção e formação de quadrilha. O Legislativo também afundou. Os
outros poderes técnicos, sem autorização popular, invadiram essas
tarefas. Passaram a executar uma espécie de tutela bem intencionada
usurpando o espaço que é da democracia.
Qual foi o efeito prático?
A Dilma quis nomear o Lula como ministro. Ele não era
formalmente acusado de nada. E o ministro do STF (Supremo Tribunal
Federal) deu liminar, que até hoje não foi examinada, sustando a posse. O
que deveria ter feito uma presidente que jurou defender, cumprir e
fazer cumprir a Constituição? Evocá-la e fazê-la cumprir. Tudo é sintoma
de anarquia, de baderna institucional derivada da desmoralização do
poder político. Prática do PT e do PSDB, que nomearam 11 ministros do
Supremo. Qualquer garoto do Ministério Público hoje se sente autorizado a
desmoralizar um prefeito. É preciso fazer do crime de improbidade uma
lista fechada de procedimentos. Vou restaurar o império do poder
político democrático.
por: Cassio Bruno & Francisco Alves Filho/O Dia)
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