BRASIL, POLÍTICA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A página virou para a Lava Jato de São
Paulo. Após mais de um ano entre idas e vindas em ações relacionadas a
Paulo Vieira de Souza, o suspeito de ser operador do PSDB conhecido como
Paulo Preto, o foco da força-tarefa será avançar em casos que envolvem
outros agentes públicos e políticos.
Entre as apurações que devem ser concluídas nos próximos meses estão as
que envolvem repasse de propina nas obras do Metrô de São Paulo e
pagamentos a parentes do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Nos últimos 30 dias, os procuradores do Ministério Público Federal em
São Paulo obtiveram suas maiores vitórias desde a formação da
força-tarefa: Paulo Preto, que é ex-diretor da Dersa (estatal paulista
de rodovias), foi condenado duas vezes e se tornou réu em uma terceira
ação penal.
Agora, o objetivo central é finalizar casos que envolvam grandes
montantes de recursos públicos e tenham bom material probatório --o que
nem sempre acontece nas narrativas apresentadas por delatores. O
inquérito do metrô, o mais abrangente deles, apura supostos desvios nas
obras das linhas 2-verde, 4-amarela, 5-lilás e 6-laranja.
Essas linhas tiveram diversos atrasos em suas construções e nas
inaugurações das estações, que resultaram em aditivos contratuais.
O ponto de partida da investigação é a delação da Odebrecht, em que os
ex-executivos relatam episódios que teriam acontecido entre 2003 e 2016,
durante as gestões tucanas de José Serra e Geraldo Alckmin.
Cinco delatores da empreiteira dizem ter feito repasses a agentes
públicos para viabilizar contratos e até liberações de vias públicas
para a execução das obras. O principal citado é Sérgio Brasil,
ex-diretor do Metrô.
Em um depoimento que menciona supostos fatos ocorridos em 2003,
ex-executivos dizem que esse dinheiro seria usado para obter apoio de
políticos do PSDB e DEM e evitar rescisões contratuais.
Não é a primeira vez que essas obras viram alvo de ações. No ano
passado, o Ministério Público do estado apresentou duas denúncias contra
Brasil, ambas sob acusação de corrupção passiva por suposto recebimento
recursos ilícitos nas obras da linha 5. Já o inquérito dos
investigadores federais trata de outras suspeitas.
Em mais um flanco, a Procuradoria também avança nas apurações a respeito
de pagamentos da empreiteira a um dos filhos e a um irmão do
ex-presidente Lula.
O filho, Luís Cláudio, e o próprio Lula já foram indiciados pela Polícia
Federal sob suspeita dos crimes de lavagem de dinheiro e tráfico de
influência por pagamentos para a empresa de marketing esportivo
Touchdown.
De acordo com a PF, a agência, que pertence a Luís Cláudio, recebeu mais
de R$ 10 milhões de grandes patrocinadores, embora tivesse capital
social de R$ 1 mil.
A outra investigação que envolve Lula diz respeito ao pagamento de uma
mesada da Odebrecht a José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do
ex-presidente. Segundo um delator, o próprio Lula fez esse pedido.
Ainda há outros dois casos relacionados a políticos que estão avançados:
supostos repasses aos ex-ministros Alexandre Padilha (PT), hoje
deputado federal, e Gilberto Kassab (PSD) --mas esses podem sofrer
questionamentos sobre onde devem tramitar porque se relacionam com
crimes eleitorais.
A coordenadora da Lava Jato em São Paulo, procuradora Anamara Osório,
afirma no entanto que "não existe nenhum elemento de crime eleitoral"
nesses casos.
"Trata-se de dinheiro ilícito, entregue sempre de forma oculta ou
dissimulada, sempre visando uma contrapartida e que tinha outra
destinação que não um gasto em campanha. Isso se chama corrupção e
lavagem de dinheiro", diz.
Os dois políticos negam ter cometido irregularidades.
Apesar da mudança de foco, a Lava Jato paulista ainda deve apresentar
denúncias a respeito de Paulo Preto e avalia suspeitas de lavagem de
dinheiro.
Outras investigações pesam sobre a Dersa e podem resultar em
desdobramentos da Operação Pedra no Caminho, que apurou fraudes durante a
gestão Alckmin.
Procurado, o advogado de Brasil, Daniel Casagrande, afirma que não
reconhece como verdadeiras as informações relatadas pelos delatores.
Também diz que seu cliente não foi ouvido em um inquérito a respeito dos
episódios do Metrô e está à disposição da Justiça.
O advogado de Lula e Luís Cláudio, Cristiano Zanin Martins, diz em nota
que o indiciamento "trata-se de mero documento opinativo, com enorme
fragilidade jurídica e distanciamento da realidade dos fatos".
"Luís Cláudio, por seu turno, comprovou serem mentirosas as afirmações de delatores da Odebrecht", afirma.
A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Frei Chico. Lula sempre
negou ter solicitado qualquer valor da Odebrecht ao irmão.
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