
Escultura "A Justiça", do artista Alfredo Ceschiatti, em frente ao STF (STF/Divulgação)
O desastrado passo dado
pela dupla de ministros Dias Toffoli e Alexandre de Moraes ao
instituírem a censura à imprensa ao arrepio da Constituição alimenta um
movimento ainda embrionário que tem como objetivo pôr de joelhos o
Supremo Tribunal Federal.
Há quem participe dele
de caso pensado. E há os que ainda não se deram conta de que participam
involuntariamente. Não, não será necessário mandar um cabo e dois
soldados para fechar o tribunal como cogitou certa vez o deputado
Eduardo Bolsonaro.
Basta desmoralizá-lo,
enfraquecê-lo, aproveitar a aposentadoria em breve de dois ministros e
talvez forçar a de mais um ou dois, de modo a montar ali uma maioria ao
gosto do presidente da República e dos que compartilham com suas ideias
extremas.
O boato de que um oficial
de justiça, a mando do ministro Alexandre de Moraes, esteva ontem no
Congresso à caça do senador Jorge Kajuru (PSB-GO) para intimá-lo a depor
sobre fake news foi o suficiente para incendiar os ânimos de muitos dos
seus pares.
Correu a história logo
desmentida pelo próprio Kajuru de que suas contas nas redes sociais
haviam sido bloqueadas por ordem de Alexandre de Moraes, indicado por
Toffoli para identificar os responsáveis pela onda de críticas ao
tribunal.
O pedido de criação da
CPI da Toga havia sido arquivado. Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente
do Senado, recuou e prometeu submetê-lo a votação em plenário em data
ainda a ser marcada. Os partidários da CPI comemoraram a decisão de
Alcolumbre.
Se ela de fato for
aprovada e instalada se abrirão as portas do inferno institucional.
Imagine que a CPI convide um dos ministros do Supremo para depor e que
ele não vá. O lance seguinte será convocá-lo. E se ele recusar-se a
depor, obrigá-lo a ir à força.
Uma CPI detém tal poder.
Acionada, a Polícia Federal atenderia à ordem de conduzir
coercitivamente o ministro? E se atendesse como reagiriam os colegas do
ministro convocado? É de se imaginar o que resultaria da colisão entre
os dois poderes.
As redes sociais estão
sendo usadas para dar força à CPI e, à falta dela, à pregação de
senadores favoráveis à abertura de processos de impeachment contra
alguns ministros do Supremo – o mais visado deles, Gilmar Mendes. Não se
descarta de que isso possa acontecer.
O pano de fundo de tudo é
Lula e o seu destino. Mantida a atual composição do Supremo, a prisão
em segunda instância da justiça poderá ser derrubada, mas mesmo que não
seja ela poderá tirar Lula de Curitiba e mandá-lo para prisão
domiciliar.
Se depender de Bolsonaro, como ele mesmo já disse, Lula mofará na cadeia.
(Por
Ricardo Noblat/Veja.com.br)
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