ELEIÇÕES 2018
EM PAUTA
Debate sobre notícias falsas realizado por ÉPOCA e pela Aberje. O tema preocupa os empresários (Foto: Emiliano Capozoli/ÉPOCA)
As
eleições do ano que vem demandam a atenção e despertam preocupação em
nove entre dez grandes empresas brasileiras. O que elas temem? A chegada
ao poder de algum líder populista ou antidemocrático. E o
enfraquecimento da imprensa. Esses são os principais resultados do
estudo Eleições 2018 – Perspectivas da comunicação organizacional, elaborado
por Paulo Nassar, professor da Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo (ECA-USP), e Hamilton dos Santos,
diretor-geral da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial
(Aberje).
Os representantes das empresas ouvidos pelos pesquisadores mencionam a
“fragilização econômica e intelectual das redações” e a “falta de
isenção dos veículos” como alguns motivos para questionar se a imprensa
está pronta para cobrir as eleições de 2018. Mesmo assim, segundo o
estudo, 91% dessas organizações acompanham o cenário político também
pelos meios de comunicação tradicionais, como as edições impressas de
revistas e jornais, além de rádio e televisão. A imensa maioria (94%)
busca informações nos meios de comunicação digitais, que incluem sites e
redes sociais dos veículos tradicionais.
Isso mostra que, apesar dos problemas apontados pelos empresários, a
imprensa brasileira ainda “dá para o gasto” – para usar as palavras da
outra metade das organizações que acredita nos jornalistas. A pesquisa
foi feita para o debate sobre o impacto das notícias falsas na cobertura
das eleições, promovido por ÉPOCA e pela Aberje, na terça-feira, dia
17, em São Paulo.
O desafio, agora, é retomar a confiança da população, e o primeiro passo
para isso, segundo Mônica Waldvogel, da GloboNews, é saber como a
imprensa chegou a esse ponto. “Onde estamos errando? Esse papel de ponte
que tínhamos entre a sociedade e o poder está rachado. O poder está nos
pautando de maneira avassaladora e a sociedade está falando por si só”,
diz. “Nas últimas eleições, a mídia americana deu atenção aos temas do
público mais intelectual, como as questões de gênero e globalização, e
esqueceu de olhar para a população do interior, que estava mais
preocupada com os imigrantes e o desemprego. Aí foi surpreendida com a
vitória do Donald Trump. Estamos indo para o mesmo caminho.”
A
disseminação das notícias falsas – as famosas “fake news” – causa temor
generalizado. O papel decisivo das mentiras espalhadas pelas redes
sociais em ritmo robótico na eleição de Donald Trump, nos Estados
Unidos, aumenta a preocupação. O tema deve fazer parte do debate e da
cobertura das eleições de 2018. Se a internet e as redes sociais
democratizam o acesso à informação, também permitem que as notícias
falsas se propaguem e se tornem um negócio lucrativo para os
mal-
intencionados. Além disso, incentivam um discurso mais polarizador.
“Nas redes sociais, o nível de popularidade de políticos mais enérgicos,
como Jair Bolsonaro e Jean Wyllys, é altíssimo. As teses extremas
tendem a ter muita relevância e muito espaço no debate feito nas redes
sociais”, explica Alexandre Secco, diretor da Medialogue Comunicação
Digital, que trabalha com campanhas eleitorais e desenvolve ferramentas
para analisar reputação e influência digital dos políticos. Secco acha
difícil mensurar a possibilidade de um candidato se eleger apenas pela
popularidade na internet. Ele cita a eleição presidencial de 2014. Nas
redes, o saldo de menções a Aécio – a diferença entre as referências pró
e contra – nas plataformas mais relevantes era 20% positivo. Dilma
tinha saldo 20% negativo. No fim, ela venceu.
A
influência da imprensa permanece, apesar da boataria da internet. Nas
eleições de 2014, segundo Secco, foram encontrados 400 assuntos
relevantes – que ganharam a atenção de mais de 1% das discussões – nas
redes sociais. Desses, 70% nasceram de reportagens publicadas pela
grande imprensa. “É um grupo pequeno de jornais, revistas e portais, que
todo mundo sabe quais são, que dissemina as notícias debatidas na
internet depois”, afirma. “A gente está fazendo nas redes sociais o que
fazia antigamente com os amigos no boteco: discutir os assuntos que saem
na mídia.”
(Época)
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