terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Jaques Wagner recebeu R$ 82 milhões, diz PF. Segundo a investigação, o dinheiro foi desviado das obras da Arena Fonte Nova, estádio construído em Salvador para a Copa do Mundo de 2014

SUPOSTA PROPINA EM CONSTRUÇÃO DE ESTÁDIO
 Jaques Wagner foi indiciado pela Polícia Federal
 Jaques Wagner foi indiciado pela Polícia Federal - José Cruz / Agência Brasil

Brasília - O ex-governador da Bahia Jaques Wagner (PT) foi indiciado pela Polícia Federal, nesta segunda-feira, por suspeita de ter recebido R$ 82 milhões em propina e caixa 2 para campanhas eleitorais. Segundo a investigação, o dinheiro foi desviado das obras da Arena Fonte Nova, estádio construído em Salvador para a Copa do Mundo de 2014. Em nota, a PF disse que o inquérito aberto apura fraude a licitações, superfaturamento, desvio de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro.

Wagner, que governou o Estado entre 2007 e 2014, foi alvo, ontem, de mandado de busca e apreensão na Operação Cartão Vermelho. A investigação apura irregularidades na contratação dos serviços de demolição, reconstrução e gestão do estádio. Em entrevista coletiva, o petista afirmou que nunca recebeu pagamentos indevidos em toda a sua vida pública.

A PF pediu a prisão preventiva do ex-governador, o que foi negado pelo Tribunal Regional Federal da 1.ª Região (TRF-1). Inicialmente, os investigadores queriam a condução coercitiva de Wagner, mas a medida está suspensa desde dezembro por decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Segundo a delegada da Polícia Federal Luciana Matutino Caires, em 2009, o superfaturamento das obras ultrapassava os R$ 200 milhões. O valor atualizado, afirmou, está em cerca de R$ 450 milhões. Os R$ 82 milhões que Wagner recebeu, segundo a PF, vieram desse superfaturamento da obra.
A PF identificou que a licitação do estádio foi direcionada para beneficiar o consórcio Fonte Nova Participações (FNP), formado pelas empresas Odebrecht e OAS. "Verificamos que, de fato, o então governador recebeu uma boa parte do valor desviado do superfaturamento para pagamento de campanha eleitoral e de propina", afirmou a delegada.

Além de Wagner, foram alvo da operação o secretário da Casa Civil do Estado, Bruno Dauster, e um empresário próximo ao ex-governador. Ao todo, a Cartão Vermelho cumpriu sete mandados de busca e apreensão em Salvador. Houve buscas e apreensão no gabinete de Wagner, na Secretaria de Desenvolvimento Econômico do governo do Estado, pasta comandada pelo petista, e também em sua residência.

Na casa de Wagner, a PF apreendeu 15 "relógios de luxo", mídias, computadores e documentos. "É sabido que ele tem interesse em relógios. Hoje (ontem) foram apreendidos 15 relógios de luxo. A gente ainda vai analisar o valor desses relógios, porque vai ser submetido à perícia técnica para calcular o valor", afirmou a delegada.

Casa da mãe

Após deflagrar a operação, a PF afirmou que a Odebrecht entregou dinheiro na casa da mãe do ex-governador, no Rio. "A maioria das vezes em espécie", disse a delegada. "Através de prepostos, não era o sr. Jaques Wagner que recebia de forma direta. A exceção foi feita na casa da mãe do sr. Jaques Wagner, no Rio de Janeiro", declarou.

Segundo o superintendente Daniel Justo Madruga, da PF na Bahia, a entrega do dinheiro na casa da mãe do ex-governador ocorreu porque, segundo ele, doleiros em Salvador não tinham capacidade de entregar a quantia desviada.

Ainda de acordo com a investigação da PF, os demais pagamentos direcionados ao ex-governador foram feitos por meio de intermediários. "A maior parte através de doações de campanha. Isso conforme as delações e alguns outros elementos de prova que temos nos autos", afirmou Madruga.

 (Por O Dia)

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