LAVA JATO
(Patricia Monteiro/Bloomberg)
São Paulo – A Procuradoria-Geral da República denunciou
nesta segunda-feira (30) o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a
senadora Gleisi Hoffman, os ex-ministros Antonio Palocci e Paulo
Bernardo sob acusação de corrupção passiva e o empresário Marcelo
Odebrecht por corrupção ativa.
Segundo a nota da PGR, a senadora Gleise Hoffman, atual presidente
nacional do PT também foi denunciada por lavagem de dinheiro, assim como
seu chefe de gabinete, Leones Dall Adnol.
A denúncia foi apresentada ao relator da operação Lava Jato no
Superior Tribunal Federal (STF), o ministro Edson Fachin, pela
procuradora-geral Raquel Dodge, em decorrência dos acordos de delação
premiada da Odebrecht.
De acordo com a procuradora, em 2010, a Construtora Odebrecht
prometeu a Lula uma doação de US$ 40 milhões em troca de decisões
políticas que beneficiassem a empresa.
As investigações, de acordo com nota da PGR, revelaram que o acerto –
avaliado na época em R$ 64 milhões – ficou à disposição do Partido dos
Trabalhadores (PT) tendo sido utilizada em operações como a que
beneficiou a senadora na disputa ao governo do Paraná, em 2014.
Veja integra da nota da PGR:
“A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou, nesta
segunda-feira (30), a senadora Gleisi Hoffmann (PT/PR), o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, os ex-ministros Antônio Palocci e Paulo
Bernardo, além do empresário Marcelo Odebrecht, pelos crimes de
corrupção (passiva e ativa) e lavagem de dinheiro. Também foi denunciado
Leones Dall Adnol, chefe de gabinete da senadora. Segundo a denúncia, a
origem dos atos criminosos data de 2010, quando a Construtora Odebrecht
prometeu ao então presidente Lula, a doação de US$ 40 milhões em troca
de decisões políticas que beneficiassem o grupo econômico. As
investigações revelaram que a soma – avaliada na época do acerto em R$
64 milhões – ficou à disposição do Partido dos Trabalhadores (PT) tendo
sido utilizada em operações como a que beneficiou a senadora na disputa
ao governo do Paraná, em 2014.
Apresentada no âmbito da Operação Lava Jato, a denúncia é decorrente
de inquérito aberto a partir de delações de executivos da construtora.
Na peça, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, destaca que,
além dos depoimentos dos delatores, a prática dos crimes foi comprovada
por documentos apreendidos por ordem judicial, como planilhas e
mensagens, além do afastamento de sigilos telefônicos e outras
diligências policiais.“Há, ainda, confissões extrajudiciais e
comprovação de fraude na prestação de informações à Justiça Eleitoral.
Ressalte-se que até o transportador das vantagens indevidas foi
identificado”, resume um dos trechos do documento, que foiencaminhado ao relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Edson Fachin.
Entre as ações realizadas como contrapartida ao acordo que
assegurou a reserva milionária de dinheiro ao PT, a procuradora-geral
cita o aumento da linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a Angola. A medida foi viabilizada pela assinatura, em junho de 2010, do Protocolo de Entendimento entre Brasil e aquele país. Posteriormente, o termo foi referendado pelo Conselho de Ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex), órgão que tinha Paulo Bernardo entre os integrantes. Na condição de exportadora de serviços, a Odebrecht recebeu do governo angolano parte dos valores conseguidos com financiamentos liberados pelo banco estatal brasileiro. O país africano teve o limite de crédito ampliado para R$ 1 bilhão, graças à interferência dos envolvidos.
Caixa 2 – Raquel Dodge detalha, na denúncia, como
parte do dinheiro repassado pela construtora chegou à atual presidente
da legenda. Com base nas provas reunidas durante a tramitação do
inquérito, a PGR afirma que, em 2014, Hoffmann e Bernardo aceitaram
receber, via caixa 2, a doação de R$ 5 milhões, destinados à campanha
eleitoral. Coube a Leones Dall’Agnol (por parte de Gleisi) e a Benedicto
Júnior (por parte da Odebrecht) viabilizar a entrega do dinheiro.
Consta do documento também que dos R$ 5 milhões negociados, Gleisi,
Paulo Bernardo e Leones Dall’Agnolcomprovadamente receberam, pelo menos, R$ 3 milhões, entre outubro e novembro de 2014.
Além disso, com o objetivo de esconder o esquema,
Gleisi Hoffmann teria declarado à Justiça Federal despesas inexistentes
no valor de R$ 1,830 milhão. Os
pagamentos foram feitos a empresas que, conforme revelaram as
investigações, foram as destinatárias dos recursos repassados pela construtora. Essa dissimilação configura a prática de lavagem de dinheiro.
Ao especificar a participação de cada um dos cinco denunciados, a procuradora-geral enfatiza que o caso reproduz o modelo de outros
apurados na Lava Jato, com a existência de quatro núcleos específicos,
sendo o político formado por Lula, Gleise Hoffmann, Paulo Bernardo e
Antônio Palocci; o econômico, exercido por Marcelo Odebrecht; o
administrativo, por Leones Dall’Agnol; e o financeiro, movimentado por doleiros responsáveis pela coleta e distribuição do dinheiro. Os integrantes do núcleo político já foram, conforme mencionado na atual
peça de acusação, denunciados por organização criminosa por
envolvimento no esquema articulação pela Construtora Odebrecht.
Pedidos – Na denúncia, a PGR
requer a condenação do ex-presidente Lula, dos ex-ministros e do chefe
de gabinete por corrupção passiva (artigo 317 do Código Penal) e de
Marcelo Odebrecht, por corrupção ativa (artigo 333 do
Código Penal). No caso da senadora, além da corrupção ativa, a denúncia
inclui lavagem de dinheiro (artigo 1º Lei 9.613/98). Há
pedido para que Lula, Bernardo e Palocci paguem US$ 40 milhões e outros
R$ 10 milhões a título de reparação de danos, material e moral
coletivo, respectivamente. Outra solicitação é para que a senadora, o
marido e chefe de gabinete paguem R$ 3 milhões como ressarcimento pelo
dano causado ao erário.”
(EXAME)
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