FACADA EM BOLSONARO
São Paulo - O advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior, responsável
pela defesa de Adélio Bispo de Oliveira, autor da facada contra o
presidente Jair Bolsonaro, disse nesta quarta-feira, que a tentativa de
ressuscitar o caso de seu cliente é algo tardio pois o julgamento de
Adélio já transitou em julgado, ou seja, esgotou todas as possibilidades
de recurso.
Na semana passada Bolsonaro designou o advogado
Frederik Wassef, que também defende o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ)
no caso das movimentações financeiras atípicas de seu ex-assessor
Fabrício Queiroz, para ser assistente de acusação no caso.
Em
entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo o procurador-geral da
República, Augusto Aras, disse que pretende buscar a "verdade real"
sobre a facada e que "não parece crível" a conclusão da Polícia Federal
de que Adélio agiu durante um surto.
"Pena que ele (Wassef)
chegou tarde. Já transitou em julgado. O julgamento do Adélio acabou.
Aquilo ali nunca mais. Talvez na próxima encarnação", disse Zanone.
Segundo
o advogado, existe interesse político do presidente em manter o caso
Adélio em evidência. "A participação do novo advogado é absolutamente
legítima. A gente já percebeu que é politicamente conveniente que este
assunto não morra", afirmou.
Para Wassef, Adélio é um "assassino
profissional" que foi contratado para matar o então candidato a
presidente. Nem ele nem Aras apresentaram indícios que justifiquem
discordar das conclusões da Polícia Federal.
Em entrevista ao
Estado, Wassef politizou o caso ao cobrar o mesmo destaque dado ao
assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), morta a tiros em 2018
no Rio de Janeiro.
Em 2018, a PF concluiu que o autor da facada
agiu sozinho. Segundo a Justiça Federal em Juiz de fora (MG), Adélio é
inimputável por sofrer de distúrbios mentais. Bolsonaro e o Ministério
Público Federal optaram por não recorrer da decisão. Dentro de três anos
o autor da facada será submetido a nova perícia. Segundo o advogado, se
for constatado que ele está são, Adélio pode ser libertado.
TRF-1
Nesta
quarta-feira, 2, o Tribunal Regional Federal da 1.ª Região (TRF-1)
formou maioria a favor do entendimento de que é competência do Supremo
Tribunal Federal (STF) analisar a legalidade da operação contra o
advogado Zanone Júnior, defensor de Adélio Bispo.
Zanone foi alvo
de uma busca e apreensão da Polícia Federal, mas o material apreendido
na operação não foi analisado por força de uma decisão liminar.
A
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) argumenta que a apreensão fere a
prerrogativa profissional que garante sigilo entre advogado e cliente.
O
caso levou Bolsonaro a fazer ataques contra o presidente da OAB, Felipe
Santa Cruz, alvo de insinuações do presidente sobre a morte de seu pai,
Fernando Santa Cruz, desaparecido durante a ditadura militar depois de
ser preso por agentes do DOI-CODI no Rio de Janeiro, em 1972.
Zanone
acredita que seu celular já foi periciado - até porque a liminar em
favor da OAB saiu semanas depois da apreensão do aparelho - e que ele
próprio e sua família são alvo de investigações dos órgãos de segurança
do governo. "Eles estão tentando ver se tem um mandante e é legítimo.
Mas você acha que a PF, a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), a
inteligência do Exército não estão todo mundo me monitorando desde o
primeiro dia, monitorando meus parentes, meu sigilo fiscal, meu sigilo
sexual, tudo, até o útero da minha mãe?", disse o advogado.
Zanone
disse que foi contratado por uma pessoa que ele não quer identificar
para fazer a defesa de Adélio. Pessoas próximas desconfiam que o
advogado, na verdade, decidiu entrar no caso por conta própria para
aproveitar a visibilidade que o julgamento poderia lhe dar.
Segundo ele, o suposto contratante não entrou mais em contato. "Não tive mais acesso à pessoa que me contratou", afirmou.
(Por:Estadão Conteúdo)
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