PANDEMIA
Secretário Estadual de Saúde, Cipriano Maia, durante entrevista coletiva
na Escola de Governo, atualizando os dados da covid-19 no RN.
O sistema público de saúde do Rio Grande do Norte para atendimento
aos pacientes com covid-19 poderá entrar em colapso a qualquer momento.
Com a ocupação dos leitos gerais públicos de Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) próxima dos 100% nas regiões mais populosas, a
Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) corre contra o tempo para
abrir novos leitos, mas esbarra na falta de respiradores e mão de obra
especializada. O Estado registrava, até terça-feira (2), a morte de 341
pessoas infectadas pelo novo coronavírus.
Conforme dados mais
recentes da Plataforma Regula RN, que distribui os pacientes entre os
hospitais administrados pela Sesap, a ocupação dos leitos para a
covid-19 em Natal e Região Metropolitana está em 97,8%. Na Região Oeste,
na qual está a cidade de Mossoró, considerada um dos epicentros da
pandemia no Estado e com uma das taxas de contaminação mais altas do
Brasil, os leitos ocupados estão em 94,8%. No Seridó, região que faz
divisa com a Paraíba, está o mais baixo nível de ocupação: 45,5%. A
velocidade de contágio da doença no Rio Grande do Norte impede que o
Governo do Estado consiga ampliar o número de leitos num curto intervalo
de tempo.
"Estamos numa situação extremamente crítica. Não
diria ainda colapso, porque os pacientes estão conseguindo ser atendidos
em algum serviço. Mas podemos dizer que estamos, realmente, à beira do
colapso se não contivermos a taxa de transmissão, se continuarmos com a
expansão do contágio e, consequentemente, o aumento do número de
pacientes graves que irão demandar mais leitos", disse o secretário de
Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte, Cipriano Maia. "Essa
abertura de leitos é limitada. Ela tem muitas restrições tanto no setor
público, quanto no setor privado. Realmente, estamos numa situação
limite".
O Rio Grande do Norte é um dos Estados nordestinos que tem o menor percentual de isolamento social. Conforme a Plataforma InLoco,
no dia 1.º de junho, essa taxa estava em 41,1%, atrás somente de
Sergipe, que contabilizou 40%. Na próxima quinta-feira, 4, o Governo do
Estado deverá editar novo decreto ampliando o isolamento social por mais
15 dias e recrudescendo as regras de distanciamento, determinando o
fechamento de orlas urbanas, praças e proibindo atividades ao ar livre.
Cipriano
Maia acredita que a covid-19 ainda não atingiu o seu pico no Rio Grande
do Norte. "Estamos nos aproximando do pico. Não temos uma segurança
absoluta de quando será. Mas os dados evidenciam que estamos ainda em
ascensão e poderemos ficar num período de crescimento por duas a quatro
semanas e estabilizar por algumas semanas. É provável que estejamos
chegando nesse pico máximo", advertiu. Na tentativa de mitigar os
impactos negativo do pico da pandemia no Estado, a Sesap deverá abrir
mais 50 leitos, entre clínicos e críticos, em hospitais públicos de
Natal e na cidade de Macaíba, na Região Metropolitana.
UPAs lotadas na capital
Em
Natal, os 35 leitos específicos para o tratamento de infectados pelo
novo coronavírus distribuídos em quatro Unidades de Pronto Atendimento
(UPAs) estão operando em sua capacidade máxima. Em algumas dessas
unidades, o volume de pacientes atendidos e/ou internados está 200%
acima da capacidade projetada, conforme dados da Secretaria Municipal de
Saúde de Natal (SMS Natal).
No Hospital Municipal Dr. Newton
Azevedo, na zona Leste de Natal, os nove leitos para a covid-19 estão
ocupados. Os leitos semi intensivos, 29 no total, estão com 80% de
ocupação. No Hospital de Campanha de Natal, na Via Costeira, todos os
sete leitos de UTI estão com pacientes. Outros 43 estão distribuídos nas
enfermarias. A unidade tem capacidade para 100 leitos de clínica médica
e 20 para UTI, ainda em processo de montagem.
Na rede privada, a
situação não é tão divergente. Num dos maiores hospitais particulares
de Natal, o Rio Grande, os 25 leitos de UTI montados para o atendimento
ao novo coronavírus estão ocupados. A unidade ampliou a oferta dos
leitos críticos de 56 para 80, mas não consegue atender à crescente
demanda. "Aumentamos consideravelmente o número de leitos de UTI, mas a
rede continua tensionada. Há 10 dias, pelo menos, estamos com o nível
máximo de ocupação das UTIs no nosso hospital", relatou o diretor Luiz
Roberto Fonseca.
Para Fonseca, o Rio Grande do Norte já enfrenta
uma situação grave em relação à covid-19. "O que nós vivenciamos hoje é
um colapso assistencial. A demanda pelos leitos de UTI é maior que a
oferta desses leitos críticos", declarou Luiz Roberto Fonseca.
Questionado se há planos para abrir mais unidades de terapia intensiva,
Fonseca adverte que há uma problemática difícil de ser solucionada.
"Faltam equipamentos, que não são somente os respiradores. Faltam
profissionais especializados no atendimento crítico e faltam insumos
medicamentosos. Somente um dos bloqueadores neuromusculares que
utilizamos em pacientes intubados para uma respiração mecânica mais
adequada aumentou o consumo em 600%. Está tudo mais difícil e mais
caro".
Peregrinação por leito
O colapso
assistencial foi vivenciado, ao longo da terça-feira, 2, pela aposentada
Paula Viana de Morais, de 97 anos. Ela começou a apresentar sintomas de
infecção pelo novo coronavírus no início desta semana. Na
segunda-feira, teve febre ininterrupta que variava de 39ºC a 41ºC. Na
manhã da terça-feira, a neta Maria Raíssa de Moraes acionou o Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) para socorrer a avó em casa e
levá-la a um hospital.
"A ambulância chegou na minha casa por
volta das 11h e ficou esperando mais de duas horas pela indicação de
alguma vaga na rede pública. Fomos para a UPA da Cidade da Esperança,
mas não tinha vaga. Vi outros idosos na mesma situação. Depois, na mesma
ambulância, seguimos para a UPA Pajuçara, onde minha avó deu entrada",
afirmou Maria Raíssa Moraes.
Apesar de ter sido admitida na
Unidade de Pronto Atendimento do Pajuçara, que fica quase 15 quilômetros
distante da casa da idosa, ela foi colocada numa sala com outras seis
pessoas com sintomas de covid-19, numa cadeira reclinável. "Só tem um
médico e muitos pacientes por todos os lados", lamentou Maria Raíssa
Moraes. Há a possibilidade da idosa ser regulada para um dos leitos
clínicos do Hospital de Campanha de Natal, mas ainda não há confirmação,
pois existem outros nove pacientes regulados à espera de leitos na
unidade hospitalar.
(Por:Estadão Conteúdo/Nominuto.com)
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