ELEIÇÕES 2018
Ninguém duvidava que a maioria dos colegas reabilitaria o senador Aécio Neves,
afastado do mandato pelo Supremo Tribunal Federal desde 26 de setembro,
como aconteceu nesta terça-feira (17). Depois que o Supremo cedeu no
julgamento da semana passada para evitar um conflito com o Senado, era
certo que Aécio seria liberado, como uma forma de proteger seus colegas
de um possível infortúnio semelhante. Aécio pode ser o mais vistoso e
conhecido no momento, mas muitos senadores também são investigados e
réus pela Operação Lava Jato, acusados de corrupção
como ele, e querem garantir a proteção e ter a mesma prerrogativa no
futuro. Por isso fizeram o que fizeram. Agora Aécio poderá sair de casa à
noite, ir ao Senado, ser senador de novo.
A salvação faz com que Aécio deixe seu pior momento desde que todos o
ouviram falando palavrões em meio a um pedido de empréstimo de R$ 2
milhões feito ao empresário Joesley Bastista.
Ele, pelo menos, volta à estaca zero. Terá influência limitada no
Senado daqui para a frente depois de tudo que passou. Seu resto de
mandato deverá ser dedicado mais à defesa jurídica e a uma estratégia
capaz de lhe garantir um mandato qualquer – seja de senador, seja de
deputado federal – em 2019 e, em consequência, o direito à prerrogativa
de foro no Supremo para todos os processos que responde ou que pode vir a
responder.
Para os colegas do PSDB, no entanto, a salvação não é tão positiva. É
mais um passo no processo de conversão do PSDB em uma espécie de PMDB, o
inverso de 1988. Assim como o partido de onde nasceu, o PSDB se recusa a
aceitar a situação de Aécio, um dos campeões de inquéritos derivados
das investigações da Lava Jato. Parte dos tucanos já se deu conta de que
o desgaste de Aécio é danoso para o partido. Aécio se tornou o caso
mais popular de corrupção do partido, a rivalizar com os diversos casos
do PT e do PMDB do presidente Michel Temer.
Afinal, assim como Temer teve um assessor preso carregando uma mala com
R$ 500 mil, Aécio teve um primo na mesma situação. A diferença estava
na marca das malas.
O caso de Aécio será um peso para a campanha eleitoral do ano que vem. O
futuro candidato do PSDB a presidente da República, seja ele Geraldo Alckmin, João Doria,
Arthur Virgílio ou algum outro, terá de falar sobre Aécio, a delação de
Joesley, R$ 2 milhões, malas de dinheiro com o primo Fred etc. São
coisas incômodas numa campanha eleitoral. Escalpelado pela Lava Jato, o
PT sabe que terá Lula como candidato ou terá um candidato de Lula, que
vai martelar o discurso de que Lula
é um perseguido, um injustiçado, um mártir com sítio em Atibaia,
apartamento em Guarujá e R$ 300 milhões da Odebrecht para campanhas. O
PSDB deveria começar desde já a pensar num bom discurso de marqueteiro
para explicar a história de Aécio na campanha eleitoral.
(LeandroLoyola/Época)
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