quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Salvação de Aécio será um peso para o PSDB na campanha de 2018. Futuro candidato tucano conviverá com acusações de que o partido fez o mesmo que PT e PMDB para salvar acusados de corrupção da Lava jato

ELEIÇÕES 2018
 O senador Aécio Neves (PSDB-MG) (Foto: Moreira Mariz/Agência Senado)

Ninguém duvidava que a maioria dos colegas reabilitaria o senador Aécio Neves, afastado do mandato pelo Supremo Tribunal Federal desde 26 de setembro, como aconteceu nesta terça-feira (17). Depois que o Supremo cedeu no julgamento da semana passada para evitar um conflito com o Senado, era certo que Aécio seria liberado, como uma forma de proteger seus colegas de um possível infortúnio semelhante. Aécio pode ser o mais vistoso e conhecido no momento, mas muitos senadores também são investigados e réus pela Operação Lava Jato, acusados de corrupção como ele, e querem garantir a proteção e ter a mesma prerrogativa no futuro. Por isso fizeram o que fizeram. Agora Aécio poderá sair de casa à noite, ir ao Senado, ser senador de novo.

A salvação faz com que Aécio deixe seu pior momento desde que todos o ouviram falando palavrões em meio a um pedido de empréstimo de R$ 2 milhões feito ao empresário Joesley Bastista. Ele, pelo menos, volta à estaca zero. Terá influência limitada no Senado daqui para a frente depois de tudo que passou. Seu resto de mandato deverá ser dedicado mais à defesa jurídica e a uma estratégia capaz de lhe garantir um mandato qualquer – seja de senador, seja de deputado federal – em 2019 e, em consequência, o direito à prerrogativa de foro no Supremo para todos os processos que responde ou que pode vir a responder. 

 Para os colegas do PSDB, no entanto, a salvação não é tão positiva. É mais um passo no processo de conversão do PSDB em uma espécie de PMDB, o inverso de 1988. Assim como o partido de onde nasceu, o PSDB se recusa a aceitar a situação de Aécio, um dos campeões de inquéritos derivados das investigações da Lava Jato. Parte dos tucanos já se deu conta de que o desgaste de Aécio é danoso para o partido. Aécio se tornou o caso mais popular de corrupção do partido, a rivalizar com os diversos casos do PT e do PMDB do presidente Michel Temer. Afinal, assim como Temer teve um assessor preso carregando uma mala com R$ 500 mil, Aécio teve um primo na mesma situação. A diferença estava na marca das malas. 

O caso de Aécio será um peso para a campanha eleitoral do ano que vem. O futuro candidato do PSDB a presidente da República, seja ele Geraldo Alckmin, João Doria, Arthur Virgílio ou algum outro, terá de falar sobre Aécio, a delação de Joesley, R$ 2 milhões, malas de dinheiro com o primo Fred etc. São coisas incômodas numa campanha eleitoral. Escalpelado pela Lava Jato, o PT sabe que terá Lula como candidato ou terá um candidato de Lula, que vai martelar o discurso de que Lula é um perseguido, um injustiçado, um mártir com sítio em Atibaia, apartamento em Guarujá e R$ 300 milhões da Odebrecht para campanhas. O PSDB deveria começar desde já a pensar num bom discurso de marqueteiro para explicar a história de Aécio na campanha eleitoral.

(LeandroLoyola/Época)

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