QUASE FOLCLÓRICOS
Alessandra Bernardo
alessabsl@gmail.com
“Já não é mais como antigamente”. Foi assim que o engraxate Manoel
Firmino começou a falar sobre a queda no número de clientes e de procura
para o serviço, que ele exerce há quase 33 anos na Cidade Alta. Hoje,
além dos poucos engraxes que faz ao dia, ele conserta sapatos femininos e
masculinos na Praça Kennedy, onde divide o espaço com o colega Pedro
Freire, que além de engraxar calçados, também faz a revitalização e
troca de cores destes.
Aos 56 anos, Manoel disse que a mudança de gostos das pessoas com
relação aos modelos de sapatos influenciou muito para o declínio da
profissão e que, para continuar sustentando a família com o que ganha
nas ruas, aprendeu a consertar e revitalizar calçados, o que corresponde
a 60% dos serviços que realiza todos os dias. Para ele, se não fosse
isso, teria que retornar ao mercado formal de trabalho.
“O serviço de graxa já não está como antes, quando eu trabalhava de
domingo a domingo e sempre tinha serviço de sobra. Hoje, fico até o
meio-dia de sábado, porque depois não tem cliente nenhum. Para se ter
ideia, antes, éramos oito engraxates, fora os os que trabalhavam com
caixinhas andando pelas ruas. Hoje, as pessoas preferem usar tênis,
sapatos de tecido, sapatilhas, enfim, coisas que não precisam ser
engraxados”, explicou.
Manoel disse também que o surgimento de shoppings e centros de
serviços nos bairros atrapalhou o movimento de pessoas no centro da
cidade, onde se concentram os poucos engraxates que ainda trabalham. E
que os clientes que conserva são antigos, a maioria deputados, juízes ou
pessoas com cargos mais elevados, que enviam seus calçados por
motoristas e seguranças.
“Os cadeira cativa mesmo não vêm mais, como quando eu trabalhava no
antigo hotel Ducal, antes de vir para a Praça Kennedy, quando comecei. E
as dificuldades rolam também com relação ao material que usamos, que
estão difíceis de serem encontrados, como a graxa colorida. Hoje, só
vendem mesmo as cores básicas, o que limita o nosso trabalho, que está
mais concentrado nos serviços de recuperação e revitalização dos
calçados”, falou.
Preços baixos
Seu colega de trabalho, Pedro Freire, também relata dificuldades em
encontrar clientes para engraxar sapatos. Por causa disso, também teve
que expandir os tipos de serviços prestados para continuar lucrando
alguma coisa, apesar dos preços baixos que cobram. Ele revelou que o
engraxe de um par de sapatos sai por R$ 5,00 apenas, já a revitalização e
mudança de cor de calçados, outro serviço que ele faz, sai por R$ 15,00
o par.
Paraibano de Caiçara, Pedro também possui uma carteira de clientes
cativos, mas às vezes ainda aparecem clientes novos. No entanto, a
maioria dos serviços é de pessoas que procuram revitalizar calçados. “Dá
para sustentar a família, manter uma situação tranquila de vida, apesar
das limitações”, disse.
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