DESPERDÍCIO
Roberto Lucena - repórter
A
chuva fina que insiste em cair do céu de Natal não atrapalha o
desempregado Cosme Régis, 49 anos. Com a metade do corpo dentro de uma
lixeira, ele resgata do fundo do recipiente as uvas que foram
desprezadas por outra pessoa. Sem examinar as frutas, coloca-as dentro
de um saco vermelho que, posteriormente, é arremessado em cima de um
caixote. No quadrado de madeira, as uvas repousam sobre legumes,
verduras e outras frutas também oriundas do lixo.
A cena
descrita acima foi registrada pela reportagem na manhã da última
quinta-feira, dia 24, mas ocorre todos os dias na Centrais de
Abastecimento do Rio Grande do Norte (Ceasa-RN). Cosme Régis é apenas
um dos catadores que vão ao local atrás dos alimentos que são
desperdiçados corriqueiramente. A Ceasa-RN é palco de um fenômeno que
acontece em todo o mundo.
Adriano Abreu
A direção da Ceasa/RN diz que 90% do lixo produzido no local, diariamente, é material orgânico
De
acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO), anualmente, é desperdiçado 1,3 bilhão de tonelada de
alimentos em todo planeta. O montante corresponde a 30% de tudo o que é
produzido no mundo e causam perdas econômicas, como também tem impacto
significativo nos recursos naturais dos quais a humanidade depende para
se alimentar. Ainda de acordo com a pesquisa da Embrapa, aproximadamente
10% do alimento jogado fora se perde ainda no campo. O maior
desperdício, 50%, ocorre no transporte e manuseio.
No Brasil,
segundo estimativas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa), aproximadamente 26,3 milhões de toneladas de alimentos têm o
lixo como destino final. No Rio Grande do Norte, não há dados estimados
que apontem o tamanho do nosso desperdício. No entanto, alguns números
revelam a complexidade do problemas.
Apenas na Ceasa-RN, por
dia, a produção de lixo atinge a marca de 13 toneladas. De acordo com a
direção do órgão, aproximadamente 90% desse volume é constituído de
material orgânico, ou seja, alimento. “Além desse quantitativo, ainda
temos aproximadamente cinco toneladas que são coletadas e transformadas
em alimento para animais”, explica o diretor presidente do órgão, José
Adécio Filho.
Os cochos para porcos também é local de destino
para os alimentos que são desperdiçados em um restaurante popular
localizado no bairro do Alecrim. Lá, diariamente, são vendidas 1.200
refeições. Mas boa parte da comida acaba sendo jogada aos porcos. “A
quantidade que é desprezada varia a cada dia. Depende muito do cardápio.
Quando é uma comida que não agrada, as pessoas deixam muito no prato.
No fim do expediente, um senhor passa aqui e recolhe o que não foi
consumido”, explica a nutricionista Daniela Matias.
O Comitê
Executivo de Fitossanidade do Rio Grande do Norte (Coex-RN) – que reúne
22 empresas produtoras de frutas, verduras e legumes – também não possui
dados que mensurem o volume de desperdício no Estado. A entidade
considera que a perda é a mesma apontada pela FAO, ou seja, 30% do que é
produzido. Com relação aos dados apresentados pela Embrapa, Luiz
Roberto, presidente do Coex-RN, revela que há uma observação em terras
potiguares. “Não há tanto desperdício no transporte porque nosso forte é
o melão de exportação. Por causa disso, há um cuidado com a embalagem e
refrigeração da fruta. Em outros casos, no entanto, percebemos um forte
desperdício, especialmente por causa do armazenamento que é feito de
forma errada”, diz.
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