
Witzel deseja trazer atiradores de elite para combater a violência no Rio - Daniel Castelo Branco
Rio - Os novos
personagens que o governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel
(PSC), quer levar para as zonas conflitadas da cidade e do Estado são
figuras discretas. Atiradores de elite, os snipers, na denominação em
inglês, não têm nome, não devem ser vistos e quase sempre agem como
sombras, confundidos com o cenário. Ainda assim são eficientes em seu
trabalho: eliminar ameaças, matar pessoas. Podem atingir a cabeça de um
homem a meio quilômetro de distância, de tal forma que o alvo caia
imóvel.
Nesse caso, o objetivo é impedir a reação nervosa
espontânea do dedo no gatilho de uma arma apontada para um refém ou da
mão que segura o disparador de uma bomba, explica um especialista do
Centro de Instrução de Operações Especiais do Exército, em Niterói, onde
são formados os caçadores, a tropa do tiro de precisão.
Homem calmo e de fala mansa, ele diz que não há a menor
dificuldade em fazer o trabalho para o qual a seleção é rigorosa e o
treinamento, severo. Marinha, Aeronáutica, PF e as polícias estaduais
mantêm quadros próprios dedicados a esse tipo de ação letal. Pouco se
sabe a respeito de sua folha de serviços.
Witzel quer formar times de atiradores para abater quem
for visto portando fuzis em meio às favelas e às comunidades. Não é tão
simples. Pela legislação, a posse do rifle não autoriza o disparo letal
- embora exija prisão.
Criminalistas ouvidos pela reportagem acreditam que
isso só seria possível em uma situação de exceção, como a declaração de
estado de sítio ou de defesa, quando há a supressão dos direitos
constitucionais. Claro, em um confronto, vale o princípio da legítima
defesa e da destruição da ameaça. Juiz federal, Witzel diz que se trata
de uma questão de interpretação da lei, que prefere "defender o policial
(que atirar para matar) no tribunal do que ir ao funeral dele".
Os snipers das Forças Armadas atuam em situações de
conflagração, apoiando a segurança da tropa e de autoridades, obtendo
informações e neutralizando alvos selecionados. Os times policiais
acrescentam "outro objeto" à lista, eventuais sequestradores que
mantenham reféns sob risco. O tiro é feito quase sempre em duplas: o
atirador e o observador, que fornece as informações de apoio.
O disparo deve ser feito na faixa de 300 metros para
que a posição não seja detectada. A incidência de luz precisa ser
considerada para evitar o reflexo na lente do sistema de mira. A dupla
usa traje camuflado e às vezes uma cobertura para confundir o olheiro.
As Forças empregam cinco diferentes tipos de fuzis, entre os quais os
imensos Barrett M82A1 .50, americanos.
Os militares e policiais candidatos à função são
voluntários. Eles têm entre 25 e 35 anos. Precisam ter passado por
outros níveis de qualificação nas forças de operações especiais. O
condicionamento físico é exigente. Alimentação balanceada, peso ideal e
pressão arterial normal são pré-requisitos.
No momento do disparo, só o dedo indicador deve se
movimentar; a respiração precisa estar no ritmo do batimento cardíaco e o
acionamento do gatilho deve ser suave - tudo isso para evitar desvios
de trajetória, explica o especialista do Exército.
O abandono durante o ciclo de instrução é alto. Em um
dos cursos de três semanas do Batalhão de Infantaria Especial da
Aeronáutica, em 2005, foram formados 14 atiradores. Houve quatro
desligamentos.
(Por
Conteúdo Estadão)
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