BRASIL, POLÍTICA
O presidente Michel Temer, no Palácio do Planalto, em Brasília - 2Z9/07/2016 (Adriano Machado/Reuters)
A negociação política para barrar duas denúncias criminais contra o presidente da República, Michel Temer, tem um custo que pode chegar a R$ 32,1 bilhões. Essa é a soma de diversas concessões e medidas do governo negociadas com parlamentares da Câmara entre junho e outubro, desde que Temer foi denunciado pela primeira vez, por corrupção passiva, até a votação da segunda acusação formal, pelos crimes de organização criminosa e obstrução da Justiça – o que está previsto para esta quarta-feira, 25.
O preço para impedir o prosseguimento das denúncias supera
em R$ 6 bilhões os recursos previstos por Temer para pagar parcelas de
famílias beneficiárias do programa Bolsa Família ao longo do ano que
vem. O programa de complementação de renda foi orçado em R$ 26 bilhões,
em 2018. Também é maior do que o custo total para a construção da Usina
Hidrelétrica Belo Monte, atualmente estimado em cerca de R$ 30 bilhões.
Temer precisa de 172 votos a seu favor, ausências ou
abstenções para barrar a segunda denúncia. Na primeira votação, ele
obteve 263 votos. Segundo aliados, o presidente tem 240 votos
garantidos, mas poderá chegar a 270 votos, resultado que confortaria o
Palácio do Planalto e deverá servir como espelho para estratégias de
tramitação das reformas tributária e da Previdência.
Além das concessões, de junho a outubro, o Planalto ainda
empenhou R$ 4,2 bilhões de emendas parlamentares individuais de
deputados, que têm execução obrigatória desde 2015. O ritmo de
liberações, no entanto, é definido pelo governo e foi um dos trunfos
para barrar a primeira denúncia. Se fossem consideradas, a conta subiria
para R$ 36,3 bilhões.
Sem dinheiro para pagar o compromisso de fato e perto de
liberar todas as emendas disponíveis, o Planalto passou a negociar em
outras frentes.
Impopular, o governo Temer recuou da liberação da exploração
de minério na Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), na
Amazônia, depois de mobilização internacional contrária. Nesta semana,
porém, decidiu dar descontos de 60% em multas ambientais e transformar
os pagamentos em compromissos de gastos dos entes privados com
reflorestamento e conservação do ambiente. A medida pode tirar dos
cofres mais de R$ 2,7 bilhões.
Segundo parlamentares ligados a centrais sindicais, o
governo promete apoiar tentativas congressuais de retomar algum tipo de
contribuição para o custeio dos sindicatos.
O governo indicou também que vai desistir de privatizar o
Aeroporto de Congonhas (SP), cujo leilão poderia arrecadar R$ 6 bilhões.
Administrado pela Infraero, o controle político do terminal está nas
mãos do PR, do ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão.
Bancada ruralista
Temer fez concessões em programas de parcelamento de dívidas
para empresários e produtores rurais, e em atos de interesse de
bancadas temáticas como a dos ruralistas, que tem 214 deputados em
exercício e poderia, sozinha, garantir a salvação do mandato do
peemedebista.
Pleitos antigos da bancada foram atendidos recentemente pelo
governo. Os ruralistas já haviam sido agraciados com um pacote de
descontos nas alíquotas de contribuição para o Fundo de Assistência ao
Trabalhador Rural (Funrural), usado para custear aposentadorias, e
condições mais benéficas para quitar dívidas com o fundo, cujo prazo de
adesão foi postergado para novembro. Até agora, o governo não recorreu
de um projeto de resolução do Senado que anistiou um passivo de R$ 17
bilhões não pagos ao Funrural.
Temer também sancionou ontem, com vetos, a Medida Provisória
do Refis, deixando de arrecadar R$ 4 bilhões, conforme estimativa do
ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. A pasta era contrária à
renúncia. O ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) negou que essas
decisões do governo tenham sido influenciadas por acordos em troca de
apoio nas votações.
(Por
Estadão Conteúdo)
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