NA POLÍTICA
Circulando de muletas por causa
de uma fratura no joelho, o apresentador Luciano Huck andava com alguma
dificuldade na tarde desta sexta-feira (20) ao participar de uma feira
sobre empreendedorismo na região da Berrini, em São Paulo. Mais
agilidade ele mostrou, sentado, ao fazer uma palestra que, mais do que
do tema do evento, tratou de desigualdade, na definição dele, e de
política.
Reafirmando ideias que descreveu em artigo publicado na Folha de S.Paulo
nesta semana, Huck defendeu a renovação no Congresso Nacional e atacou o
que chama de "corrupção endêmica" no país.
"Eu juro para vocês: não tenho vaidade nenhuma em relação ao poder.
Minha vaidade está superbem administrada com o que eu faço. Eu não tenho
nenhum desespero... Eu quero participar", disse o apresentador, que vem
negando intenção de ser candidato nas eleições do ano que vem.
Huck
está envolvido com movimentos como o Agora!, que prega a formação de
novas lideranças e lançará concorrentes para a Câmara dos Deputados, e o
RenovaBR, fundo cívico montado por empresários para bancar a formação
de potenciais candidatos.
Ele também mantém conversas com partidos
como Novo, Rede, DEM e PPS. O apresentador tem dito que quer dialogar
com diferentes correntes de pensamento e entender bem o terreno onde
está pisando -no papel de alguém de fora do dia a dia da política que
deseja dar sua contribuição, segundo ele.
Huck hoje analisa com
especial interesse formas de atrair novas lideranças para o Legislativo.
Um eventual endosso ou declaração de apoio a candidatos no Executivo
deve ser avaliado posteriormente. A avaliação dele é que o cenário para a
Presidência seguirá nebuloso enquanto não se decidir a presença ou
ausência do ex-presidente Lula, que pode alterar profundamente o jogo.
"Nasci
nos Jardins, aqui em São Paulo. Se você não tomar cuidado, você vai
frequentar o mesmo restaurante, a mesma turma, a sua vida inteira. E o
Brasil é muito maior do que isso", afirmou o apresentador no evento, ao
relacionar o tema do seminário com seu trabalho na TV, como os quadros
no "Caldeirão do Huck", da Globo, em que ajuda e incentiva pessoas
comuns.
"Nesses 18 anos eu posso dizer que eu rodei este país
inteiro. Eu conheço o Brasil profundo e isso ninguém vai tirar de mim",
disse ele aos participantes do Festival de Cultura Empreendedora,
realizado em um "coworking" (espaço compartilhado de trabalho) pela
Editora Globo e pelo jornal "Valor Econômico".
Usando expressões
próprias do ambiente corporativo, como "inspiração exponencial",
"empoderamento" e "start-up", Huck disse que o "processo de reinvenção
do Brasil" passa pela superação da cultura do "jeitinho" e pela mudança
de valores.
Ele convidou para participar de sua palestra a doceira
Gerlândia Gomes, 47, que passou por uma vida de privações, apareceu
neste ano em um quadro de seu programa na Globo e hoje se apresenta como
empreendedora.
"[Meu trabalho é] poder usar essa capacidade de
chegar às pessoas com uma mensagem positiva", disse o apresentador. "O
Brasil está tão carente de bons exemplos. Ética hoje é a palavra mais em
desuso."
Huck voltou a defender, como já
afirmou em março, que é hora de sua geração "arregaçar as mangas" e
"parar de só apontar o dedo para os problemas".
Daí a importância,
acredita o apresentador de 46 anos, de "empoderar movimentos cívicos" e
aproveitar a atual crise como uma chance para "ressignificar as coisas
pra valer".
Após se definir como um liberal, Huck afirmou que não
dá para falar em meritocracia no Brasil enquanto persistirem as
desigualdades e faltarem oportunidades iguais para todos.
"O que
me incomoda nos discursos políticos que ouço hoje em dia é que o Brasil
profundo não está sendo lembrado. O país é extremamente desigual. O
projeto que funciona para a [avenida] Faria Lima não é o mesmo que
funciona para Inajá, no interior de Pernambuco."
Chamando o Estado
brasileiro de "grande", disse que o governo deve atuar em áreas
básicas, "mas, bicho, no resto deixa o mercado se regular. Abre, deixa
ele concorrer".
Em seguida, ponderou: "Mas você achar que o
mercado liberal vai fazer o país ser um país mais justo é de uma
ingenuidade enorme. [...] O Brasil tem que ter pensamento eficiente de
um lado e afetivo de outro".
Bastante aplaudido na entrada e ao se
despedir, Huck contou estar em uma fase na qual reflete sobre como
retribuir a sociedade. Por isso, quer usar as ferramentas que tem à
disposição para "fazer a diferença" na vida de outros.
No início,
ao explicar que "nasceu duas vezes", relembrou o acidente de avião que
sofreu com a mulher, a também apresentadora Angélica, e os filhos, em
2015.
"Até ali eu nunca tinha pensado
em morte. No futuro eu quero olhar para trás e medir o meu sucesso pelo
impacto que eu tive na vida das pessoas", afirmou.
(Com informações da
Folhapress.)
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