O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem (25) que o processo
de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff está sendo conduzido
por uma “quadrilha legislativa”. Lula participa de encontro promovido
pela Aliança Progressista, uma rede internacional de partidos e
organizações de esquerda. Com a voz rouca, o discurso do ex-presidente
foi lido pelo diretor do Instituto Lula, Luiz Dulci.
“Uma
aliança oportunista entre a grande imprensa, os partidos de oposição e
uma verdadeira quadrilha legislativa, que implantou a agenda do caos”,
disse Lula em discurso lido por Dulci. Do lado de fora do hotel onde
ocorre o seminário, manifestantes favoráveis ao impeachment trocam
provocações com grupos que apoiam o governo.
Após
Dulci ter lido o discurso, o ex-presidente falou alguns minutos de
improviso. Segundo Lula, os deputados federais não analisaram com
equilíbrio os argumentos sobre o impedimento da presidenta, e resolveu
pela abertura do processo de forma sumária. “Ali não houve uma mínima
análise de argumentos e provas. Houve um pelotão de fuzilamento,
comandado pelo que há de mais repugnante no universo político”, criticou
o ex-presidente.
“Essa
operação foi comandada pelo presidente da Câmara dos Deputados, réu em
dois processos por corrupção, investigado em quatro inquéritos e
apanhado em flagrante ao mentir sobre suas contas secretas na Suíça”,
disse em referência a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que, de acordo com Lula,
aceitou a tramitação do processo de impeachment como vingança. “Quando
os deputados do PT se recusaram a acobertá-lo no Conselho de Ética, o
presidente da Câmara abriu o procedimento do impeachment”.
Uma
das razões da ação para a saída de Dilma é, segundo Lula, abafar as
investigações e o combate à corrupção no país. “Os golpistas querem
voltar ao poder para controlar, justamente a polícia. Intimidar o
Ministério Público e a Justiça, como fizeram no passado. Para
restabelecer o reino da impunidade que sempre os preservou”.
O
agravamento da crise política, que criou o cenário propício ao
impedimento da presidenta, foi uma estratégia dos opositores ao governo,
disse o ex-presidente. “Enquanto o governo se esforçava para equilibrar
as contas públicas, cortando na própria carne, a oposição trabalhava
para agravar a crise. Foram 18 meses de sabotagem no Legislativo, com a
cumplicidade dos grandes meios de comunicação, que difundem o pessimismo
e a incerteza 24h por dia”, disse.
Falando
de improviso, o ex-presidente comparou o processo atual contra Dilma ao
golpe que instaurou a ditadura militar no país. “Tirar a Dilma do jeito
que eles querem tirar é a maior ilegalidade desde a revolução de 1964,
no golpe militar”, comparou.
Os
argumentos usados atualmente são, de acordo com Lula, semelhantes aos
proferidos para derrubar governos e instaurar os regimes nazista e
fascista na Alemanha e na Itália, respectivamente, na primeira metade do
século 20. “O argumento é sempre o mesmo: acabar com a corrupção. Foi
assim que Hitler cresceu, foi assim que Mussolini cresceu, é assim que a
direita cresce em todos os países da América Latina”.
Para
Lula, internacionalmente há o agravamento de crises políticas e
econômicas, que afetam, em especial, os países latino-americanos.
“Depois da crise de 1929, nunca tivemos uma situação como essa. Nós
temos o mundo rico fracassado, o Brics [Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul] vivendo problemas sérios e a América Latina retrocedendo,
não apenas do ponto de vista econômico, a do ponto de vista da
democracia”.
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