O Ministério Público pediu à Justiça que nomeie um interventor para
atuar na Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern).
Segundo o MP, a companhia está despejando esgoto sem tratamento no rio
Potengi.
A constatação do crime ambiental veio com os resultados laboratoriais
de exames elaborados pela UFRN e pela Funcern, além de vistorias
técnicas feitas pelo próprio MP e pelo Idema nas oito Estações de
Tratamento de Esgoto (ETEs) da cidade.
"Até mesmo na ETE do Baldo, inaugurada em 2011 ao custo de mais de R$
80 milhões", foi flagrado em abril deste ano o lançamento de esgoto
bruto para o rio sem passar antes pelo sistema de tratamento", afirma o
MP.
Intervenção
No pedido, a 45ª Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de
Natal requer que o interventor trabalhe na estrutura interna da Caern,
com ou sem afastamento dos atuais diretores da Companhia, com poderes
para realizar todos os atos destinados à adequação ambiental das
Estações de Tratamento de Esgotos. O objetivo do pedido é fazer com que
os esgotos coletados sejam tratados com eficiência para encerrar a
poluição hídrica do estuário do rio Potengi.
No documento, o MP ainda ressalta que o pedido de intervenção na Caern
“revela-se como a única e última alternativa capaz de solucionar o grave
problema das ETEs, já que restaram frustradas todas as demais
tentativas realizadas na esfera administrativa, na esfera extrajudicial e
até mesmo na esfera criminal”.
Para solucionar o problema, o MP firmou, em 2004, um Termo de
Ajustamento de Conduta (TAC) com a Companhia. Diante do não cumprimento
desse TAC, em 2007, o Ministério Público ajuizou uma Ação Civil Pública.
Em 2010, a Justiça potiguar sentenciou a Companhia a adequar as ETEs às
normas ambientais em até dois anos. Como mais uma vez não houve
cumprimento das decisões judiciais, o MPRN denunciou a Caern e
presidentes dela por crimes de poluição tendo como base a Lei de Crimes
Ambientais. Paralelamente, o Idema expediu várias solicitações de
providências à Caern visando a adequações das ETEs.
As obrigações acordadas e homologadas judicialmente foram para
determinar que a Caern realize a adequação ambiental de todas as
Estações de Tratamento de Esgotos que a empresa opera: Beira Rio,
Facultativa I, Facultativa II, Lagoa Aerada, Jardim Lola I, Jardim Lola
II, Baldo e Distrito Industrial de Natal. De acordo com os prazos
concedidos na sentença judicial de abril de 2010, todas as ETEs já
deveriam estar adequadas e tratando com eficiência os esgotos coletados
desde 2012.
No pedido de intervenção enviado à Justiça, o MPRN frisa que “passados
mais de oito anos da sentença, há lagoas que possuem operação tão
deficiente que há momentos em que servem apenas como transferência de
esgotos in natura para as águas do estuário do Potengi, como foi a
situação flagrada na ETE Bom Pastor durante vistoria realizada no dia 31
de julho de 2017. A lagoa estava vazia e os esgotos estavam sendo
lançados diretamente no estuário”.
ETE/Baldo
O MPRN alerta à Justiça também sobre a gravidade do fato de que os
esgotos das estações que precisam ser desativadas serão transferidos
para a Estação de Tratamento do Baldo. Há uma determinação judicial que
impede a Caern de transferir os esgotos de qualquer uma das demais
lagoas para a ETE/Baldo sem garantir o devido tratamento.
Apesar de ser nova e moderna, tendo sido instalada em 2011 e com custos
de mais de R$ 80 milhões, a ETE/Baldo não está tratando os esgotos com
eficiência por falhas operacionais da Caern. Há diagnósticos, vistorias e
análises laboratoriais que confirmam que a Estação de Tratamento de
Esgotos do Baldo não está realizando o tratamento adequado de efluentes.
A situação está sendo monitorada pelo MPRN desde 2011, inclusive
buscando uma solução judicial para os problemas detectados.
Análises laboratoriais das águas do estuário feitas ano passado revelam
a existência de coliformes em valor totalmente incompatível com as
águas do estuário do Potengi. A existência de coliformes termotolerantes
está ligada ao principal indicador de contaminação fecal, que pode
causar danos à saúde humana.
Em abril deste ano, o Idema, com acompanhamento do MP, realizou
vistoria na ETE/Baldo. Foi constatado que o sistema de desinfecção do
efluente final não estava funcionando adequadamente, o que impede que os
esgotos sejam tratados como prevêem as normas ambientais. Além disso,
foi detectada a existência de uma tubulação de desvio de esgotos brutos
(in natura, sem tratamento) direcionada para o canal do Baldo, sem
passar antes pelo sistema de tratamento, o que configura crime
ambiental.
O MP também alerta que a Caern está instalando mais duas ETEs em Natal:
uma na região Sul (Guarapes) e outra na região Norte (Jaguaribe). Ambas
possuem projetos modernos e mecanizados, da mesma maneira da ETE/Baldo.
“Diante dessa perspectiva, ganha essencial importância a necessidade de
obrigar a Caern que trate com eficiência os esgotos coletados na
cidade. Caso contrário, as ETEs podem servir apenas para concentrar
esgotos e lançar no estuário do Potengi, aumentando a poluição hídrica
já existente de forma exponencial”.
Para o MP, as vistorias e os laudos elaborados mostram a importância da
intervenção judicial para garantir que a Caern trate com eficiência os
esgotos coletados em Natal.
(Por G1 RN)
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