DEBATE
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Logo ele, um sujeito que
medita, não se reconheceu ao ver a TV. Assim o ministro Luís Roberto
Barroso narrou como se sentiu após a desavença que teve com o colega do
STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes, a quem acusou de ter
"pitadas de psicopatia" em março.
"Não vou explorar esse assunto. Quando vi na TV pensei, 'essa pessoa não
sou eu, eu sou um sujeito que medita todos os dias, vivo de bem com a
vida'", disse o ministro em debate na Casa Época/Voque, neste sábado
(28), durante a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty).
A plateia gargalhou quando Barroso logo emendou: "Não me arrependi, não".
Referia-se ao bate-boca que teve na corte, cinco meses atrás, com
Gilmar. "Me deixa de fora desse seu mau sentimento. Você é uma pessoa
horrível. Isso não tem nada a ver com o que está sendo julgado. É um
absurdo Vossa Excelência aqui fazer um comício cheio de ofensas,
grosserias. Já ofendeu a presidente, já ofendeu o ministro Fux, agora
chegou a mim", interrompeu Barroso naquela sessão.
E mais: "O senhor é a mistura do mal com o atraso e pitadas de
psicopatia", disse Barroso a Gilmar. "A vida para Vossa Excelência é
ofender as pessoas. Qual a sua ideia? Qual sua proposta? Vossa
Excelência é uma vergonha, é uma desonra para o tribunal. Vossa
Excelência, sozinho, desmoraliza o tribunal. Está sempre atrás de algum
interesse que não o da Justiça".
Em Paraty, Barroso disse não ter "interesse em estimular isso". Mas continuou falando do assunto.
"Imagina você trabalhando num lugar onde um colega seu extremamente
agressivo, grosseiro, que ofenda pessoas e plante notas falsas sobre
você nos jornais. Tudo isso a meditação absorveu. Um dia [a briga]
aconteceu, foi um acidente da estrada."
O ministro afirmou que
ficou "chateado" com a reação da mídia e do público à contenda. "Porque o
modo como penso a vida... Ninguém deve ter esse poder de tirar você do
seu centro. Mas o que é pior: os editoriais trataram como se fosse
episódio de dois brigões, não de alguém que depois de anos absorvendo
golpes um dia reagiu."
JUDICIALIZAÇÃO
O ministro discutiu a
judicialização da política no evento. Falou que o Supremo é responsável
por questões vitais na democracia: pesquisas com células-tronco, uniões
homoafetivas, questões religiosas, cotas raciais, financiamento
eleitoral, impeachment de Dilma Rousseff... Até "questões lúdicas",
lembrou Barroso.
Como episódio anedótico, citou a "decisão dizendo
que o colarinho do chope faz parte da bebida" e deve ser considerado,
portanto, parte integrante da bebida. Um restaurante catarinense chegou a
ser multado pelo Inmetro em R$ 1.512, acusado de entregar ao cliente um
chope caprichado no colarinho e ferir, assim, o Código de Defesa do
Consumidor.
Barroso colocou à plateia questões que o STF tem de
lidar: "Pode uma mulher engravidar do sêmen do marido morto que ficou
congelado em banco?" Há uma fila de transplante de fígado. Uma senhora
ganha um fígado. A fila anda, um cavalheiro é o próximo. "A senhora que
recebeu o fígado anterior tem rejeição e pede o fígado. Aí você tem a
judicialização, algo macabro, pela disputa pelo fígado."
"Pra nenhuma deles havia uma solução pré-pronta para o ordenamento jurídico."
Ele
contou, em outra anedota, que essa era uma das primeiras vezes que fala
em público desde que deu uma palestra em uma universidade no Maranhão.
Barroso chegou à cidade e viu três grandes outdoors com a fotografia dele "bem grande, provavelmente retocada".
Já
no hotel, encontrou uma senhora que lhe disse: "O sr. é o ministro
Barroso, vi você no outdoor. A gente fica melhor na fotografia, não é
mesmo?" Ficou traumatizado e preferiu se recolher de grandes eventos
públicos, brincou.
Questionado sobre em que votará nas eleições de 2018, não titubeou. O
voto é secreto. Nem a mulher, contou, sabe por quem optou em eleições
passadas.
(Com informações da Folhapress)
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