BRASIL, POLÍTICA
O procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato no Paraná (Vagner Rosário/VEJA.com)
Os procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná enviaram nesta quarta-feira (25) ao juiz federal Sergio Moro um ofício em que se manifestam sobre a decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) de retirar de dois processos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva as delações premiadas de executivos da Odebrecht
em que o petista é incriminado. Para os investigadores, o entendimento
dos ministros do colegiado de enviar os depoimentos à Justiça Federal de
São Paulo gera “lamentável tumulto processual” e “não tem qualquer
repercussão” sobre se Moro pode continuar à frente das duas ações penais
que Lula responde e que incluem acusações de supostas propinas pagas
pela empreiteira.
“A remessa dos termos a outra jurisdição foi uma decisão superficial que
não tem qualquer repercussão sobre a competência desse douto Juízo. Por
não haver qualquer mudança fática ou revisional, deve a presente ação
penal prosseguir em seus regulares termos”, afirmam os procuradores no
ofício, anexado ao processo que trata do suposto pagamento de 1 milhão
de reais em propina a Lula por meio de obras no Sítio Santa Bárbara, em
Atibaia, frequentado pelo petista e sua família. Segundo a denúncia do
MPF aceita por Sergio Moro, parte dos valores foi paga pela Odebrecht.
A decisão da Segunda Turma levou a defesa do ex-presidente a pedir, nesta quarta-feira, que Moro envie à Justiça Federal de São Paulo
a ação sobre o sítio e o processo que trata de um suposto pagamento de
12,9 milhões de reais em propina a Lula pela empreiteira, por meio das
compras de um terreno que abrigaria o Instituto Lula, em São Paulo, e de
uma cobertura vizinha à do petista em São Bernardo do Campo (SP).
Para a força-tarefa da Lava Jato, o entendimento dos ministros do STF Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski
de que os depoimentos dos delatores não têm relação com o escândalo de
corrupção da Petrobras e, por isso, não devem ficar sob Moro, “preferiu
ignorar fatos notoriamente conhecidos que ensejariam uma conclusão
diversa” e seus fundamentos “não têm qualquer sustentação na realidade”.
Os ministros Edson Fachin, relator da operação no Supremo, e Celso de
Mello votaram por manter as delações na alçada do juiz federal.
“A vinculação dos fatos com propinas pagas no âmbito da Petrobras
decorre de um amplo conjunto de provas entre elas documentos, perícias,
testemunhas e depoimentos dos colaboradores inseridos nos autos das
investigações e ações penais que tramitam perante esse Juízo. Tais
provas foram, em grande parte, colhidas muito antes da colaboração da
Odebrecht demonstrando, inclusive, a utilização de valores do Setor de
Operação Estruturadas da Odebrecht que formavam um caixa geral para
pagamento de propinas, abastecido com dinheiro proveniente, entre
outros, dos crimes de cartel, fraude a licitações e corrupção de
diversos contratos do grupo econômico com a Petrobras”, afirmam os
procuradores.
Os membros da força-tarefa da Lava Jato ainda sustentam que o
processo sobre o sítio de Atibaia envolve pagamentos de propina a Lula
pela OAS e pelo pecuarista José Carlos Bumlai, que estão no âmbito das
investigações na Petrobras.
O ofício endereçado a
Sergio Moro afirma que o envio dos depoimentos das delações da
Odebrecht à Justiça Federal paulista “mostra-se ininteligível”, “salvo
na hipótese de se querer atentar contra os fatos”. “A competência para
os procedimentos em trâmite nessa jurisdição foi e é fixada e revisada
dentro dos canais próprios do Judiciário. Tem razão, neste ponto, o voto
condutor, ao declarar expressamente que não poderia fazer uma análise
vertical da matéria sem conhecer as outras provas relacionadas ao
assunto ou fora do âmbito adequado, que são as investigações e ações
penais existentes”, completam os procuradores.
A força-tarefa da Lava Jato no Paraná também ataca a alegação nos
votos dos ministros da Segunda Turma do Supremo de que as investigações
estão “em fase embrionária”. O processo referente ao sítio de Atibaia
teve denúncia apresentada pelo MPF em maio de 2017, aceita por Sergio
Moro em agosto e está na fase de depoimentos de testemunhas. Ainda
conforme os procuradores, a decisão do STF “evidentemente não impede que
os mesmos colaboradores sejam ouvidos sobre fatos relevantes para
instrução de outras investigações e ações penais”.
Leia aqui a íntegra do ofício da força-tarefa da Lava Jato a Sergio Moro.
( Por
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